O último filme de Sofia Coppola, "Bling Ring: O Gangue de Hollywood"/"The Bling Ring" (2013) faz inteiramente sentido na obra da cineasta. Enquanto acompanha o gang informal que assalta as mansões das celebridades do mundo do espectáculo e cada um dos seus membros, ela nunca perde de vista que trabalha sobre um fait-divers (o filme parte de um artigo sobre factos reais publicado na Vanity Fair), que, como no seu filme de estreia, "As Virgens Suicidas"/"The Virgin Suicides" (1999), a questão que se lhe coloca é como melhor "montar o cerco" às personagens em termos fílmicos para as mostrar tal como elas são. Para tentar compreender.
Claro que o gang e a sua história são sintomáticos da Hollywood de hoje (que é a manifestação actual da Hollywood de sempre), mas o que mais interessa à cineasta é mostrar secamente como as suas personagens jovens e bonitas se entretêm como num passatempo, misto de afirmação, curiosidade e inconformismo. Há neles crueldade, mesmo maldade? Há sobretudo espírito de aventura (limitada aventura), vontade de fazer o que mais ninguém fez e de quebrar o interdito para chegar aos famosos.
Percebe-se o gosto de Sofia Coppola em falar sobre aquilo que conhece, um meio que conhece, tal como se percebe que ela escolheu este assunto não por se ter deixado seduzir pela fama fácil, tão fácil de Hollywood, mas para tentar identificar nele aquilo que de relevante uma fama hollywoodiana também arrasta consigo, com Paris Hilton e Kirsten Dunst representando-se a si próprias e Emma Watson, a Hermione Granger dos filmes de Harry Potter, tomando conta das operações e do filme em muito boa companhia. Não tenhamos dúvidas: como os últimos de David Lynch, "Mulholland Drive" (2001) e "Inland Empire" (2006), este é um filme sobre o próprio cinema.
Tudo se resolve de forma amável e serena com o funcionamento dos meios que o sistema proporciona, como se ninguém tivesse sido ofendido e tudo não tivesse passado de uma brincadeira, guardando-se a última palavra sobre o assunto para a internet, que tinha sido utilizada na preparação dos assaltos, e ao mostrá-lo como tal a cineasta guarda a justa distância crítica, que transmite intacta ao espectador. Em termos visuais e espaciais "Bling Ring: O Gangue de Hollywood" está muito bem construído em interiores e em exteriores - notável o assalto a uma casa filmado à distância, a partir do exterior. A música, de Daniel Lopatin e Brian Reitzell, e as canções, muito bem escolhidas e utilizadas, acentuam o tom "nativo americano" do filme.
Sofia Coppola é uma grande cineasta, inteligente e sensível, que não falha um filme, como se acolhesse em si a herança artística das gerações anteriores da sua família. Como sempre está presente também no argumento e o filme é dedicado ao grande director de fotografia Harry Savides (1957-2012), que trabalhara com ela em "Somewhere - Algures"/"Somewhere" (2010) - mas também trabalhou com David Fincher, James Gray, Gus Van Sant, Ridley Scott e Woody Allen -, de quem este foi o último filme.
Sofia Coppola é uma grande cineasta, inteligente e sensível, que não falha um filme, como se acolhesse em si a herança artística das gerações anteriores da sua família. Como sempre está presente também no argumento e o filme é dedicado ao grande director de fotografia Harry Savides (1957-2012), que trabalhara com ela em "Somewhere - Algures"/"Somewhere" (2010) - mas também trabalhou com David Fincher, James Gray, Gus Van Sant, Ridley Scott e Woody Allen -, de quem este foi o último filme.
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