Quando, aqui há uns anos, andava exasperado pela falta de filmes de jeito para ver no circuito comercial, alguém mais novo falou-me em "Distrito 9"/"District 9", a primeira longa-metragem do sul-africano Neill Blomkamp (2009). Fui ver e gostei. Depois vim a saber que houve mais quem tivesse gostado.
Do mesmo cineasta e com argumento seu estreou-se agora "Elysium" (2013), que naturalmente fui ver e me deixou sonhador, a pensar num tipo que há uns quarenta anos começou a fazer cinema com um filme de ficção científica e um filme sobre uma esquadra da polícia cercada, uns trinta anos depois de um outro tipo ter começado a fazer filmes policiais da Série B nos quais então poucos repararam. Blomkamp aparece-me como o mesmo tipo de personalidade forte e inesperada que foram no seu tempo Anthony Mann e John Carpenter, isto é, o mesmo tipo de cineasta, de grande cineasta aparentemente surgido do nada.
Parecendo pouco ambicioso ou precioso do ponto de vista técnico, embora utilize requintes de animação em 3D e 2D no seu filme, em que tudo surge muito bem no seu lugar convencional na parte cenográfica, Neil Blomkamp não se deixa seduzir pelo grande espectáculo da grande ficção científica, que tão bons resultados tem dado no cinema americano, preferindo-lhe uma história banal de antecipação científica de pobres contra ricos, de escravos contra senhores, num estilo mais de antecipação do que de ficção científica. O resultado, como em "Distrito 9" e na linha dele, é muito bom, numa mecânica narrativa sem entraves no seu desenvolvimento implacável .
Feito num espírito que eu denominarei de Série B, um filme de antecipação como este, que no fundo diz tanto sobre o futuro como sobre o presente, é o equivalente de um policial da Série B dos anos 40 ou dos 70, sem precisar de prestar contas a ninguém, respondendo apenas por si próprio. De vedetas Neill Blomkamp foi buscar Matt Damon e Jodie Foster, gente séria e de grande qualidade, a que juntou o seu actor preferido, Sharlto Copley, e o filme vê-se num estado de permanente fascínio e encantamento, sem preocupação de maior quanto à verosimilhança dos avanços científicos postos em causa, mas com toda a credibilidade do conflito encenado, uma credibilidade que lhe vem do passado e do presente.
Há em "Elysium" um ponto de partida excêntrico, a partir do mundo latino-americano, que lhe permite não se centrar apenas numa Los Angeles escravizada por senhores que se ausentaram para um outro mundo, donde comandam. Deste modo, o combate de Max Da Costa/Matt Damon para se salvar e salvar a filha da sua amiga de infância, Frey/Alice Braga, é também um combate pela liberdade, pela libertação de senhores longínquos e poderosos, como num filme de Sam Peckinpah ou de John Carpenter.
"Elysium" tem espectáculo, cenas de pancadaria memoráveis entre humanos e entre humanos e robots, tem bondade e maldade, tem perigo, risco e sacrifício, tem sobretudo drama e acção dramática, tudo claro e sem confusões, tanto mais claro quanto o grupo para o qual Max, ele próprio em liberdade condicional, acaba por trabalhar é um grupo de marginais numa Los Angeles despovoada.
Com fotografia de Trent Opaloch, o mesmo de "Distrito 9", e música de Ryan Amon, Julian Clarke e Lee Smith na montagem, este é sem dúvida um dos melhores filmes do ano, estranhamente estreado em pleno mês de Agosto.
Com fotografia de Trent Opaloch, o mesmo de "Distrito 9", e música de Ryan Amon, Julian Clarke e Lee Smith na montagem, este é sem dúvida um dos melhores filmes do ano, estranhamente estreado em pleno mês de Agosto.
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