Realizado pela grega Athina Rachel Tsangari, "Attenberg" (2010) é um pequeno filme minimalista sobre uma filha de 23 anos, Marina/Ariana Labed, acompanhante do pai, Spyros/Vangelis Moutikis, muito doente, que com o aproximar da sua morte com ela prepara um "funeral alternativo". Ao mesmo tempo, porém, a filha, apreciadora dos documentários de Sir David Attenborough e das canções dos Suicide, prepara com o seu primeiro namorado a sua primeira relação sexual, depois de uns treinos proporcionados pela sua melhor amiga, Bella/Evangelia Randou, experimentada nesses assuntos.
Despretensioso e minimalismo, "Attenberg" é, assim, um filme sobre a vida e a morte, diria que sobre o que cada um de nós tem de mais certo e, portanto, essencial. Com actores em completa não-expansividade sem por isso apontarem especialmente para uma interioridade das personagens, este é um filme sobre sentimentos e acontecimentos primordiais, sem grande espectáculo, sensível e sereno.
Um elemento formal, moderno, nele se destaca porém, que é a opção pelo plano fixo, ocasionalmente interrompido por movimentos de câmara, em geral travellings de acompanhamento ou descritivos. E esse elemento é tão importante que se torna estruturante, deixando a sua marca estética própria no filme.
Um elemento formal, moderno, nele se destaca porém, que é a opção pelo plano fixo, ocasionalmente interrompido por movimentos de câmara, em geral travellings de acompanhamento ou descritivos. E esse elemento é tão importante que se torna estruturante, deixando a sua marca estética própria no filme.
Os interiores estão muito bem e funcionalmente definidos, os corredores do hospital são muito bem explorados (e aí no final surgem os travellings), os exteriores são dados de maneira seca e por isso cativante, mas sobretudo as relações que se estabelecem a dois, pai-filha, filha-amiga, filha-namorado, amiga-namorado, estão muito bem dadas como tal, sem espalhafato e sem melodrama. Mas há também, e até sobretudo em "Attenberg" uma lógica de repetição, que se torna ela também estruturante, de acordo com a qual cada situação binária constitui uma variação estabelecida sobre as anteriores entre as mesmas personagens, do que se destacam visualmente os passos (de dança) de Marina e Bella. Dessa maneira se vão construindo os sentidos entre as diferentes personagens do filme, numa forma ela também minimalista de construção da narrativa, a que o plano fixo se ajusta muito bem.
Na sua depuração
essencial, Athina Rachel Tsangari consegue fazer deste filme uma obra
moderna e desinibida, cativante e comovedora contra todos os
estereótipos de que o cinema se serve habitualmente em situações
semelhantes. Pelas melhores razões, que incluem uma banda sonora
simples e evocativa, sempre muito bem utilizada, "Attenberg" é um filme pessoal com todos os
elementos necessários para fazer dele um bom filme. No final, depois de as cinzas de Spyros terem sido entregues ao mar, ficamos, num plano fixo e longo sobre o qual acaba por correr o genérico de fim, perante o vazio, o mistério da vida, da morte e da memória.
Fala-se de um "cinema novo" grego de que "Attenberg" faria parte, o que deve ser tido em atenção. E Marina, a quem o pai, muito céptico sobre o desenvolvimento da Grécia, chama "moderna burguesa optimista", é na sua espontaneidade e candura uma personagem marcante.
Fala-se de um "cinema novo" grego de que "Attenberg" faria parte, o que deve ser tido em atenção. E Marina, a quem o pai, muito céptico sobre o desenvolvimento da Grécia, chama "moderna burguesa optimista", é na sua espontaneidade e candura uma personagem marcante.
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