"The Slap" (2011) é uma excelente série televisiva australiana em 8 epsódios que o canal cultural franco-alemão Arte transmitiu durante este mês de Setembro. Baseada num best-seller de Christos Tsiolkas, esta série lida com desenvoltura, em termos modernos e com grande felicidade, com questões da sociedade australiana actual, sem para tal precisar de mais do que uma excelente utilização da linguagem televisiva e de grandes actores, justos e precisos nas respectivas interpretações.
Baseada num episódio corriqueiro, um adulto que dá uma bofetada numa criança que não é sua, "The Slap" apresenta-se como um conflito geracional entre famílias que acaba por se metamorfosear em conflitos pessoais familiares e interfamiliares, por forma a dar um retrato forte e contrastado de uma sociedade em movimento acelerado. As personagens pertencem a gerações diferentes e configuram delicados problemas pessoais hoje em dia transversais a qualquer sociedade, o que confere a toda a série e aos conflitos que apresenta um carácter universal.
A partir de uma premissa visual, "o que cada um viu do acontecimento", e dividida em episódios cada um dedicado uma personagem diferente, esta série tem uma construção visual muito precisa, baseada no olhar, na linha do olhar de cada um, o que vai permitir evidenciar o que cada um sabe e o que cada um diz não só sobre esse acontecimento mas sobre os outros. Com a infidelidade no amor, o conflito declarado entre amigos, o insinuar da ameaça, a narrativa desenrola-se e desdobra-se de tal forma que tudo surge como consequência natural da vida e das características pessoais de cada um, o que só gradualmente é revelado. Com vozes-off que variam de episódio para episódio, a variação da personagem central de cada episódio permite a mudança de ponto de vista sobre os mesmos factos e sobre os outros, sobre a vida, o que se torna extremamente interessante e sugestivo.
O verdadeiro centro de "The Slap" acaba por ser o tempo, a passagem do tempo para cada personagem, as referências que cada um mantém (para alguns, a Grécia das origens), as perspectivas sobre a vida, o passado, o presente e o futuro, que cada um alimenta, onde quer chegar, o que quer evitar, o que procura. Desembaraçada e sem preconceitos, esta é uma excelente série, muito recomendável, que assinala uma produção televisiva que por ela se adivinha muito importante. Repete em Outubro à sexta-feira, pela noite dentro.
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