“Um não sei quê, que nasce não sei onde,/Vem não sei como, e dói não sei porquê.” Luís de Camões

"Na dor lida sentem bem,/Não as duas que êle teve,/Mas só a que êles não têm." Fernando Pessoa

"Lividos astros,/Soidões lacustres.../Lemes e mastros.../E os alabastros/Dos balaustres!" Camilo Pessanha

"E eu estou feliz ainda./Mas faz-se tarde/e sei que é tempo de continuar." Helder Macedo

"Conchas, pedrinhas, pedacinhos de ossos..." Camilo Pessanha

“Vem, vagamente,/Vem, levemente,/Vem sozinha, solene, com as mãos caídas/Ao teu lado, vem” Álvaro de Campos

"Chove nela graça tanta/que dá graça à fermosura;/vai fermosa, e não segura." Luís de Camões

domingo, 29 de setembro de 2013

A Austrália, evidentemente

     "The Slap" (2011) é uma excelente série televisiva australiana em 8 epsódios que o canal cultural franco-alemão Arte transmitiu durante este mês de Setembro. Baseada num best-seller de Christos Tsiolkas, esta série lida com desenvoltura, em termos modernos e com grande felicidade, com questões da sociedade australiana actual, sem para tal precisar de mais do que uma excelente utilização da linguagem televisiva e de grandes actores, justos e precisos nas respectivas interpretações. 
                     
        Baseada num episódio corriqueiro, um adulto que dá uma bofetada numa criança que não é sua, "The Slap" apresenta-se como um conflito geracional entre famílias que acaba por se metamorfosear em conflitos pessoais familiares e interfamiliares, por forma a dar um retrato forte e contrastado de uma sociedade em movimento acelerado. As personagens pertencem a gerações diferentes e configuram delicados problemas pessoais hoje em dia transversais a qualquer sociedade, o que confere a toda a série e aos conflitos que apresenta um carácter universal.
     A partir de uma premissa visual, "o que cada um viu do acontecimento", e dividida em episódios cada um dedicado uma personagem diferente, esta série tem uma construção visual muito precisa, baseada no olhar, na linha do olhar de cada um, o que vai permitir evidenciar o que cada um sabe e o que cada um diz não só sobre esse acontecimento mas sobre os outros. Com a infidelidade no amor, o conflito declarado entre amigos, o insinuar da ameaça, a narrativa desenrola-se e desdobra-se de tal forma que tudo surge como consequência natural da vida e das características pessoais de cada um, o que só gradualmente é revelado. Com vozes-off que variam de episódio para episódio, a variação da personagem central de cada episódio permite a mudança de ponto de vista sobre os mesmos factos e sobre os outros, sobre a vida, o que se torna extremamente interessante e sugestivo.  
                     theslaph.jpg              
      O verdadeiro centro de "The Slap" acaba por ser o tempo, a passagem do tempo para cada personagem, as referências que cada um mantém (para alguns, a Grécia das origens), as perspectivas sobre a vida, o passado, o presente e o futuro, que cada um alimenta, onde quer chegar, o que quer evitar, o que procura. Desembaraçada e sem preconceitos, esta é uma excelente série, muito recomendável, que assinala uma produção televisiva que por ela se adivinha muito importante. Repete em Outubro à sexta-feira, pela noite dentro.

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