A primeira longa-metragem de ficção do americano Henry-Alex Rubin, "Desligados"/"Disconnect", 2012, é um filme muito curioso que explora bem um terreno que, depois de Robert Altman, Paul Thomas Anderson trabalhou de forma pioneira em "Magnólia"/"Magnolia", 1999 (ver "Mosaico vivo", 30 de Março de 2012). Com argumento de Andrew Stern, esse é um filme profundamente actual que mostra como, com todas as tecnologias actuais, vivemos isolados uns dos outros, em desconhecimento uns dos outros.
Ocupando-se de questões de casais e de filhos mas também de gente solitária, "Desligados" mostra que não é fácil nos nossos dias ser adulto ou adolescente. Muito justamente centrado na comunicação pessoal via internet, o filme mostra como ela trabalha também a nossa solidão, o nosso isolamento e desconhecimento mútuo, mesmo a nossa indiferença mútua. Muito apropriadamente, no final Kyle/Max Thieriot diz a Nina Dunham/Andrea Riseborough, a jornalista que o entrevistou e por causa disso teve problemas, que não quer ser "salvo".
De facto, neste permanente desconhecimento e alheamento mútuos, para que às tantas são preciso "bodes expiatórios", há limites para tudo, até para o reconhecimento e a aceitação de eventuais "boas intenções". Muito ocupados uns, muito concentrados em si próprios outros, neste filme todos, mais velhos ou mais novos, acabam por girar sobre o seu próprio vazio existencial. Que os Boyd acabem por se reunir em torno de uma morte adiada ou os Hull se detenham à beira do abismo é importante mas não decisivo. Agora que alguém afirme que não aceita "jogar o jogo" é profundamente revelador.
Henry-Alex Rubin mostra atenção e sensibilidade perante o presente mas sobretudo inteligência na construção do seu puzzle narrativo e humano, em que cada um pode encontrar o que quiser ou procurar. A sua descomprometida compreensão do presente é muito estimulante, chamando-nos a atenção a todos para que viver não é fácil e não existem, apesar das melhores intenções, causas ganhas à partida. E a montagem do final está muito bem vista.
Limpo e desenvolto em termos cinematográficos, "Desligados" é um filme muito bom que nos desperta a todos. É, além disso, dedicado à memória de Andrew Sarris (1928-2012), homenagem justa a um grande estudioso americano do cinema: mesmo que o cinema não se ensine, tal como a vida talvez se aprenda. Tomem conta uns dos outros.
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