Acaba de ser publicado o primeiro volume da "Obra Escrita" de João César Monteiro (Lisboa: Letra Livre, 2014), que é alguma coisa que, por pouco usual no cinema, eu não esperava. Ainda em sua vida, do autor tinham sido publicados diversos livros com textos seus sobre cinema, alguns dos quais fizeram época, livros esses editados pelas edições & etc e há muito esgotados. Por isso, quando se anunciou a publicação dos seus escritos era da reedição desses livros que eu estava à espera. Mas enganei-me.
Muito embora possa parecer discutível, a opção editorial (com coordenação de Vitor Silva Tavares, que escreve a introdução) de dar a lume os guiões dos filmes do cineasta tal como ele os escreveu, para além de confirmar aquilo que dele já sabíamos, i. e., que ele era um grande escritor (o que mesmo os inimigos que cultivou lhe concediam), permite comparar o que escreveu com os filmes concluídos, agora disponíveis em dvd.
Que João César Monteiro foi um grande cineasta, dos mais cultos, originais e melhores do cinema português, já o sabíamos e os seus filmes provam-no e confirmam-no. Esta edição vem confirmar as suas qualidades, a qualidade do seu trabalho para cinema, o que só era preciso para quem dela duvidasse, e vem sobretudo permitir e facilitar estudos completos mais desenvolvidos que cruzem filmes e fontes anteriores.
Em todo o caso, esta publicação funciona também e até especialmente como homenagem ao grande homem de cinema, rebelde e inconformista, que ele foi, e é, só por isso, de saudar, agradecer e aconselhar vivamente. Neste primeiro volume são publicados os guiões, as sinopses e planificações dos seus filmes até "Silvestre" (1981). Com uma surpresa, os livros éditos e esgotados chegam no fim.
Ave Caesar, morituri te salutant.
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