“Um não sei quê, que nasce não sei onde,/Vem não sei como, e dói não sei porquê.” Luís de Camões

"Na dor lida sentem bem,/Não as duas que êle teve,/Mas só a que êles não têm." Fernando Pessoa

"Lividos astros,/Soidões lacustres.../Lemes e mastros.../E os alabastros/Dos balaustres!" Camilo Pessanha

"E eu estou feliz ainda./Mas faz-se tarde/e sei que é tempo de continuar." Helder Macedo

"Conchas, pedrinhas, pedacinhos de ossos..." Camilo Pessanha

“Vem, vagamente,/Vem, levemente,/Vem sozinha, solene, com as mãos caídas/Ao teu lado, vem” Álvaro de Campos

"Chove nela graça tanta/que dá graça à fermosura;/vai fermosa, e não segura." Luís de Camões

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Labirinto expressivo

    Prosseguindo o seu trabalho de proximidade, simples na aparência com a sua utilização da câmara mini DV e feliz na sua forma de diário íntimo, Alain Cavalier realizou "Le Paradis" (2014) a partir do texto bíblico, que passou no Arte na semana passada.
                     LE_PARADIS
     As referências verbais reflectem na actualidade sobre esse texto, indo da Odisseia ao Novo Testamento, do mítico ao sagrado, enquanto na imagem surgem a natureza no seu esplendor, objectos heteróclitos em diferentes escalas e personagens avulsas, que falam, respondem e lêem directamente para a câmara - e esta parte visual impõe-se pela sua variedade e originalidade.
    Sem qualquer de retórica narrativa, as imagens são cativantes e surpreendem pela sua autenticidade, e as palavras fazem-nas assumir uma outra dimensão. A voz-off do próprio realizador, pouco mais que um sussurro, torna-se especialmente importante. 
                    
     Construindo um labirinto subjectivo visual e sonoro para o qual nos convida e através do qual nos conduz num movimento poético, Alain Cavalier continua em "Le Paradis" um percurso pessoal original e muito criativo - sobre este cineasta, ver "A construção da memória", de 14 de Setembro de 2013, e "Filmar o amor", de 9 de Novembro de 2013.

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