“Um não sei quê, que nasce não sei onde,/Vem não sei como, e dói não sei porquê.” Luís de Camões

"Na dor lida sentem bem,/Não as duas que êle teve,/Mas só a que êles não têm." Fernando Pessoa

"Lividos astros,/Soidões lacustres.../Lemes e mastros.../E os alabastros/Dos balaustres!" Camilo Pessanha

"E eu estou feliz ainda./Mas faz-se tarde/e sei que é tempo de continuar." Helder Macedo

"Conchas, pedrinhas, pedacinhos de ossos..." Camilo Pessanha

“Vem, vagamente,/Vem, levemente,/Vem sozinha, solene, com as mãos caídas/Ao teu lado, vem” Álvaro de Campos

"Chove nela graça tanta/que dá graça à fermosura;/vai fermosa, e não segura." Luís de Camões

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Olhar e ver

    A importante exposição "Passageiro clandestino - Mário Dionísio 100 Anos", patente no Museu do Neo-Realismo, em Vila Franca de Xira, é uma pequena mostra comemorativa, em contexto, da vida, actividade e obra de uma das maiores figuras intelectuais do Século XX português.
  Professor, ensaísta, poeta e ficcionista, teórico da arte e pintor distinto, Mário Dionísio (1916-1993) foi altamente prejudicado pelo Estado Novo, a que desde o início se opôs e que combateu de diversas formas, exuberantemente ilustradas nesta exposição, que incluem episódios curiosos e polémicas célebres no seu tempo - de como um dos fundadores do neo-realismo português a partir de certa altura se distanciou dele, de como manteve sempre a sua independência e recusou alienar a sua liberdade de espírito em quem quer que fosse.
   A presente exposição, com coordenação científica e curadoria de António Pedro Pita, Director Científico do Museu do Neo-realismo, cumpre uma dívida que todos nós tínhamos para com ele ao permitir a um público alargado descobri-lo no contexto do seu tempo. Com a parte iconográfica bastante boa, inclui ainda alguns quadros de Mário Dionísio como pintor - atenção ao seu auto-retrato.
                                 mariodionisio - II
     Claro que ele pintou muito mais, mas para ver tudo só mesmo na Casa da Achada - Centro Mário Dionísio, em Lisboa, onde a sua filha Eduarda Dionísio, que cedeu as peças constantes desta exposição, mantém viva a memória e a criação do seu pai numa casa da cultura. E aí devem ir em qualquer caso, já que inclui uma biblioteca pública, um centro de documentação com o arquivo Mário Dionísio e a sua biblioteca e de sua mulher Maria Letícia, além das suas maravilhosas pinturas, que merecem mesmo ser todos elas conhecidas. Ver
www.centromariodionisio.org/casa_da_achada.php
e
www.centromariodionisio.org/programacao.php      
onde poderão encontrar informação sobre o Congresso Internacional Mário Dionísio - No centenário do seu nascimento - "Como uma pedra no silêncio...", com organização da FLUL, Museu do Neo-realismo e Casa da Achada - Centro Mário Dionísio, a decorrer entre 27 e 30 deste mês de Outubro.         
     A exposição do Museu do Neo-Realismo está patente até 26 de Fevereiro de 2017 e inclui ainda uma palestra  (8 de Outubro) e dois colóquios (14 de Janeiro e 18 de Fevereiro de 2017). Mas aproveitem para visitar também o museu e as suas outras exposições. O catálogo desta exposição, com Organização e Coordenação Editorial de António Pedro Pita e Fátima Faria Roque,  cumpre com dignidade a sua função.
     Agora a grande homenagem a Mário Dionísio no seu centenário não estará completa sem a reedição integral da sua obra, hoje escassamente divulgada. Em especial a sua poesia muito visual - mais um pintor que também escreve do que um poeta que também pinta, segundo Morgane Masterman (in catálogo pág. 102) -a sua reflexão fundamental sobre a arte moderna de "A Paleta e o Mundo" - foi o meu primeiro livro sobre arte - surpreenderão quem não as conhecer.
      Ver referência a Mário Dionísio em "Mestres de pensar", de 7 de Março de 2013.  

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