“Um não sei quê, que nasce não sei onde,/Vem não sei como, e dói não sei porquê.” Luís de Camões

"Na dor lida sentem bem,/Não as duas que êle teve,/Mas só a que êles não têm." Fernando Pessoa

"Lividos astros,/Soidões lacustres.../Lemes e mastros.../E os alabastros/Dos balaustres!" Camilo Pessanha

"E eu estou feliz ainda./Mas faz-se tarde/e sei que é tempo de continuar." Helder Macedo

"Conchas, pedrinhas, pedacinhos de ossos..." Camilo Pessanha

“Vem, vagamente,/Vem, levemente,/Vem sozinha, solene, com as mãos caídas/Ao teu lado, vem” Álvaro de Campos

"Chove nela graça tanta/que dá graça à fermosura;/vai fermosa, e não segura." Luís de Camões

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

A memória e o sonho

   De Catarina Mourão, autora de "A Dama de Chandor" (2000), chega-nos o mais recente documentário, "A Toca do Lobo" (2016). Construído a partir da memória de família do seu avô, o escritor Tomaz de Figueiredo (1902-1970), recolhe documentos (fotografias, filmes, escritos) e depoimentos, especialmente o da mãe da realizadora, filha do escritor, mas também objectos pessoais deste. 
                      Foto 1
    Aberta às questões mais perturbadoras e às respostas mais enigmáticas, a cineasta constrói como um puzzle um filme belo e sentido, inteligente e muito bom, que acaba por dizer muito sobre Portugal e os portuguesas no século passado ao incluir também a figura do seu tio com o mesmo nome do pai, opositor e preso político do Estado Novo.
    Tenho ideia de que todas as famílias guardam áreas e personalidades no fundo de arcas que raramente abrem. É o que Catarina Mourão aqui se atreve a fazer, entrando por ramificações do caminho que o seu interesse principal pelo seu avô abrem. E não consegue ir mais longe por causa da recusa da sua tia em lhe franquear o acesso à familiar Casa de Casares.                  
                     Foto 3
   Para quem não souber, esclareço aqui que Tomaz de Figueiredo foi efectivamente um grande escritor português do Século XX, de cujos livros me lembro e que cheguei a ver pelo menos na televisão. A sua obra foi reeditada já neste século pela IN-CM.
   Com este seu novo e bem construído documentário, que tem o mesmo título do mais conhecido romance do seu avô e em que introduz uma derivação muito curiosa com a dança filmada na Casa dos Arcos de Valdevez, Catarina Mourão prossegue da melhor forma uma das obras mais interessantes no documentarismo português contemporâneo.

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