Nove anos depois de "Os Sonhadores"/"The Dreamers" (2003), Bernardo Bertolucci regressa com um filme sobre jovens, "Eu e Tu"/"Io e te" (2012), que confirma o seu afastamento das grandes produções que, depois de inícios muito auspiciosos no "cinema novo" italiano dos anos 60 ("La commare secca", 1962, "Antes da Revolução"/"Prima della rivoluzione", 1964, "Partner", 1968), caracterizaram o seu cinema durante a maior parte dos anos 80 e 90 do Século XX e pelas quais talvez seja hoje em dia mais conhecido.
Decorrendo na actualidade, este filme trata de dois meio-irmãos, Lorenzo/Jacopo Olmo Antinori, de 14 anos, e Olivia/Tera Falco, mais velha e filha do mesmo pai mas de uma mãe diferente, que se vão encontrar na cave onde o primeiro se refugia durante o tempo que é suposto passar numa viagem escolar à montanha e à neve. Isto significa o encontro improvável de um adolescente introvertido e de uma jovem mulher gravemente toxicodependente, num convívio que passa pelo conflito, pela cumplicidade, pelo afecto e pela tentativa de compreensão mútua que conduza à ajuda recíproca.
Ajudando Lorenzo na sua simulação e socorrendo-se da ajuda dele para o que precisa, Olivia mostra-se tão ou mais frágil do que ele, que apesar de tudo tem naquele momento um objectivo a cumprir, o que com ela não acontece. Do lado dele há um espírito de desafio colocado a si próprio, o de ser capaz de conviver sozinho com o pequeno bestiário do seu mundo privado, com os livros que alimentam o seu imaginário, um desafio que o tempo que consegue aguentar com o rosto dentro de água simboliza. Do lado dela trata-se apenas de passar o tempo o melhor possível, rumo ao possível reatar de uma relação com um homem mais velho.
Com um estilo seco e seguro, o cineasta consegue manter a relação entre dois seres que têm mais a separá-los do que aquilo que os une (um pai invisível, uma velha avó hospitalizada) num tom justo de grande simplicidade, que nos devolve íntegras duas solidões que por alguns dias se acompanham. Sem qualquer transigência narrativa (com argumento sobre novela de Niccòlo Ammaniti de que participam o escritor, Umberto Contarello Francesca Marciano e o próprio cineasta) e sempre com um apurado gosto cinematográfico (a fotografia de Fabio Cianchetti tem momentos luminosos de claro-escuro, a música de Franco Piersanti é sempre apropriada e justa), "Eu e Tu" desenrola-se como drama da vida comum entre duas personagens incomuns, porque marcadas, cada uma à sua maneira, por uma solidão inelutável.
A narrativa pode parecer curta num filme curto, mas neste estão presentes todos os elementos necessários e suficientes para tornar inteiramente compreensível aquilo que por um breve lapso de tempo se passa entre as duas personagens, dando assim conta de que o talento de Bernardo Bertolucci se mantém incólume, de novo capaz do melhor e de nos cativar pelas melhores razões. Olivia revê-se, prevê-se na madrasta e na avó, Lorenzo no amigo dela e no próprio pai, a cujo círculo quer furtar-se. Consegui-lo-á?
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