O alemão Thomas Arslan, trabalhando como sempre sobre um argumento original da sua autoria, dirigiu "Ouro"/"Gold" (2013), filme que decorre no final do Século XIX no Canadá e com o qual recupera a memória do western de uma maneira feliz e moderna.
Sem se socorrer de todo o aparato do género, antes trabalhando sobre dados simples e elementos minimalista, o cineasta constrói o seu filme sobre um grupo de alemães que empreende um longo percurso na Columbia Britânica para chegar à mítica Dawson, onde se diz ter sido descoberto ouro. Depois de uma abertura belíssima, o desenvolvimento temático é muito interessante, sobretudo a partir do momento em que, pelas mais diferentes razões, começam as defecções no grupo.
Assim, onde se poderia esperar uma contenda interna entre rivais pelo mesmo objectivo, ou até pela mesma mulher, Emily Meyer/Nina Hoss, assiste-se a um progressivo emagrecimento do grupo, já de si reduzido, até só ficarem ela e o carregador, Carl Böhmer/Marko Mandic. Mas cada personagem tem vida e identidade própria, não se limitando a encarnar uma ideia, o que torna o filme especialmente interessante e atraente.
Na magnífica paisagem da Columbia Britânica, onde foi rodado, não temos, pois, neste filme as manifestações de ganância que o ouro frequentemente suscita, antes um grupo de gente que o persegue e cujos membros, um a um, vão ficando pelo caminho, como que no cumprimento de um destino funesto que a música de Dylan Carlson, original e muito presente, comenta como um coro. Em "Ouro" temos momentos de grande tensão, como a ameaça de enforcamento sumário do chefe da expedição, Wilhelm Laser/Peter Kurth, a amputação e posterior morte de Gustav Müller/Uwe Bohm, o enlouquecimento e a desaparição de Joseph Rossmann/Lars Rudolf, cada um dos quais ficáramos a conhecer bem.
Não vos conto o final, que é muito bom e contribui decisivamente para fazer deste filme um típico filme pós-moderno sobre um assunto clássico. Sem sobressaltos, formais ou outros, "Ouro" decide-se entre uma serenidade formal e uma tensão dramática que apenas a música vem comentar, passa num sopro mas fica connosco, confirmando Thomas Arslan como mais um nome de relevo a reter num novo "cinema novo" alemão (ver "O encenador", 21 de Setembro de 2012). A este tipo de "regresso do western" (ver também "Perdidos", 5 de Julho de 2012) eu sou muito receptivo.
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