"Nightcrawler - Repórtes na Noite"/"Nightcrawler" (2013) é a primeira longa-metragem do argumentista Dan Gilroy, erradamente identificado no dvd editado esta semana em Portugal com o seu irmão Tony Gilroy, realizador e argumentista de "Michael Clayton - Uma Questão de Confiança"/"Michael Clayton" (2007), de que um terceiro irmão, John Gilroy, foi responsável pela montagem. Tantos erros e confusões na edição portuguesa são de bom augúrio.
De facto, este é um filme denso e muito bom, que mantém o olhar acre e o ritmo tenso de princípio a fim sobre o jornalismo televisivo da noite de Los Angeles, protagonizado por um excelente Jake Gyllenhaal como Louis Bloom, que entra num meio onde a qualquer preço quer singrar como repórter. A partir de argumento da sua autoria, o realizador desdobra os meandros conhecidos de uma profissão sem escrúpulos e sem consciência, em que a oportunidade, consubstanciada na miséria e no sofrimento alheio, tem de ser agarrada a qualquer preço, à revelia das autoridades, antes dos outros e contra eles.
E aqui o dinheiro é uma questão decisiva: por quanto se vende, por quanto se compra, por quanto se trabalha e para quem. Com um aspecto inofensivo e despretencioso, "Nightcrawler - Repórter na Noite" constitui-se como um libelo fundamental contra um meio desacreditado porque, central na sociedade do entretenimento em que vivemos, se debate pelas piores notícias com as melhores imagens que fazem as supostas maiores audiências. A qualquer preço, a prioridade no péssimo é o seu lema.
O filme encontra antecedentes notáveis em "Escândalo na TV"/"Network", de Sidney Lumet (1976) e em "Assassinos Natos"/"Natural Born Killers", de Oliver Stone (1994) sobre história de Quentin Tarantino, e com plena actualidade não perde nada no confronto, já que o objectivo atingido de Louis Bloom é filmar o escândalo, filmar a morte violenta, que é o que é suposto agradar a audiências néscias e mórbidas. Sobre o próprio cinema "8mm"/"8MM", de Joel Schumacher (1999), foi um filme muito importante.
Se, pelo caminho, vos ocorrer perguntar por Portugal, posso dizer-vos que se finou há muito e eu não fui ao funeral: o último a sair há muito tinha fechado a porta e só ficaram as ratazanas de esgoto que, no odor fétido, se entre-devoram enquanto aos vermes e às termitas disputam despojos inexistentes. Sem manhãs de nevoeiro, para alívio geral dele não ficou memória, muito menos saudade.
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