Aparentemente uma revisitação de "Caravana de Mulheres"/"Westward the Women", de William Wellman (1951), o último filme de Tommy Lee Jones, "Uma Dívida de Honra"/"The Homesman" (2014), continua o seu anterior "Os Três Enterros de um Homem"/"The Three Burials of Melquides Estrada" (2005) pelo lado da solidão do protagonista, George Briggs, que ele próprio interpreta, mas também de Mary Bee Cuddy/Hilary Swank, e mesmo das três mulheres loucas que eles transportam.
Este é um filme muito apreciável como western fora do seu tempo (há muito que o género perdeu a importâcia e pertinência que teve no cinema clássico e moderno americano - ver "Poética do western", de 29 de Setembro de 2013), pois a solidão de que trata é um dos temas maiores do western como género clássico que ele aqui revisita, aliás com referências explícitas a "A Desaparecida"/"The Searchers", de John Ford (1956) e a "O Passado Não Perdoa"/"The Unforgiven", de John Huston (1960). Ora a solidão é também um problema moderno, mesmo contemporâneo.
Transportar três mulheres loucas é, neste filme, transportar a loucura dos outros e a loucura própria (porque ela se contamina) para um lugar seguro, e os pequenos papéis de John Lihtgow, James Spader e Meryl Streep apenas enquadram carinhosamente uma história trágica, tragicamente humana e com um grande potencial de envolvimento cinematográfico pela maneira como está inteligentemente tratada em termos fílmicos.
Fora do seu tempo, de qualquer tempo, "Uma Dívida de Honra" é um western que nos leva ao coração do ser humano, preso por liames, que se transformam em grossas cordas, aos outros e ao que o rodeia, sem embargo do que ele tem que se desenvencilhar sozinho. Mesmo na civilização actual, em que não temos lugar a não ser na normalização requerida pelo sistema que nos rege e governa, com as suas referências culturais e comunicacionais próprias, perante as quais estamos como ele, George Briggs, e como ela, Mary Bee Cuddy: sós e pendurados pelo pescoço.
Tanto Tommy Lee Jones como Hilary Swank estão soberbos nos protagonistas, num frente-a-frente pleno de sabedoria e de brio, num filme tão insólito quanto bem feito, dir-se-ia que contra as regras do género para melhor se cumprir como filme. Apenas anoto que o realizador e actor é também co-argumentista e que o francês Luc Besson (ver "Faz sentido", de 26 de Setembro de 2014) aparece como co-produtor, num filme com excelente fotografia de Rodrigo Prieto e música escassa mas muito boa de Marco Beltrami.
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