"O Olhar do Silêncio"/"The Look of Silence", do americano Joshua Oppenheimer (2014), é o segundo filme de um díptico sobre o genocídio cometido na Indonésia nos anos 60 do Século XX, de que o primeiro foi "O Acto de Matar"/"The Act of Kiling" (2012) - ver "O lugar do outro", de 29 de Dezembro de 2014.
Muito justamente, este segundo filme assume expressamente a perspectiva das vítimas na pessoa do irmão mais novo de uma das vítimas do terror e do massacre de então. É através dos olhos e das palavras dele que nos aproximamos das testemunhas da época, quer os seus familiares, quer os assassinos.
Estes, contrariamente ao que sucedia no filme anterior, não são levados a recriar na actualidade, em modo de psicodrama, o que aconteceu há meio século, antes se limitam a ouvir e a ver imagens, que o próprio inquiridor vê e mostra.
Estes, contrariamente ao que sucedia no filme anterior, não são levados a recriar na actualidade, em modo de psicodrama, o que aconteceu há meio século, antes se limitam a ouvir e a ver imagens, que o próprio inquiridor vê e mostra.
Perante a evidência do passado e as questões colocadas, a atitude actual destes torcionários assassinos é diferente da assumida em "O Acto de Matar": obedeciam a ordens, as vítimas eram comunistas, passou muito tempo e é preferível não falar mais no assunto. E é aqui que Joshua Oppenheimer, repetidamente interpelado pelas personagens com hostilidade, se revela extremamente pertinente e muito oportuno perante o inaceitável, moralmente condenável e a negação radical de qualquer ideia de direito - por isso considerado crime contra a humanidade -, que os seus próprios perpetradores se recusam a aceitar como mal, como errado.
"O Olhar do Silêncio" é, pois, o olhar das vítimas, nomeadamente do irmão mais velho, convocado pela memória do irmão mais novo e recordado pelos pais. Mas percebe-se que também os assassinos o recordam sem arrependimento nenhum. Silenciar o crime abominável e horrendo significaria ignorá-lo, contra o que o cineasta muito justamente constrói este seu díptico de documentários: para que não seja esquecido, nem minimizado, nem repetido.
Para tratar de um caso concreto o dispositivo ocular é muito apropriada e oportunamente utilizado no filme pelo optometrista, criando distância mas indicando que é preciso ver bem, ver sempre melhor, qualquer que seja a idade, em todos os sentidos e tempos. E não olhar para o lado, não esquecer nem calar, até porque esta é uma história que não tem cessado de se repetir, sempre com as mesmas boçais, grotescas, odiosas explicações, para vergonha de toda a humanidade.
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