“Um não sei quê, que nasce não sei onde,/Vem não sei como, e dói não sei porquê.” Luís de Camões

"Na dor lida sentem bem,/Não as duas que êle teve,/Mas só a que êles não têm." Fernando Pessoa

"Lividos astros,/Soidões lacustres.../Lemes e mastros.../E os alabastros/Dos balaustres!" Camilo Pessanha

"E eu estou feliz ainda./Mas faz-se tarde/e sei que é tempo de continuar." Helder Macedo

"Conchas, pedrinhas, pedacinhos de ossos..." Camilo Pessanha

“Vem, vagamente,/Vem, levemente,/Vem sozinha, solene, com as mãos caídas/Ao teu lado, vem” Álvaro de Campos

"Chove nela graça tanta/que dá graça à fermosura;/vai fermosa, e não segura." Luís de Camões

sábado, 3 de outubro de 2015

Sobre o fado

    O mais recente documentário de Bruno de Almeida, que já tinha feito "Amália - Uma Estranha Forma de Vida" em vídeo (1995) e "A Arte de Amália" (2000), volta a dedicar-se ao fado, desta feita sobre aquele que é provavelmente o melhor e mais conhecido fadista da actualidade em "Fado Camané" (2014).
    Ao filmar e ouvir o fadista durante os ensaios para a gravação de um novo álbum, "Sempre de Mim", o filme de Bruno de Almeida acompanha-o enquanto, sob a direcção de José Mário Branco, vai buscando e encontrando progressivos aperfeiçoamentos das suas interpretações tendo em vista os ritmos e as vocalizações perfeitos da sua voz, seguindo a música tocada por Carlos Bica e o seu grupo mas também cada poema.
    Sem ser um apreciador do fado, posso admirá-lo quando interpretado a este nível, com perfeita articulação das palavras por uma voz pujante e própria, como neste caso acontece. Sem nunca dar um fado completo, filmando excertos o cineasta intercala-os com os diálogos do fadista com o director musical, com os músicos e com Manuela de Freitas, autora de poemas para fado, mas também com a entrevista feita a Camané por um interlocutor presente na imagem.
                      
     A preto e branco e sem sair do interior do estúdio de gravação, apoiado no grande-plano e na montagem dinâmica "Fado Camané" é um filme de grande expressividade e afecto sem cair no vídeo-clip, um filme equilibrado, quase perfeito, em que são ditas coisas fundamentais sobre o fado e sobre o próprio fadista num tom descontraído, de proximidade.
     Enquanto saúdo este filme muito bom e bem vindo, aproveito para felicitar José Mário Branco pela atribuição este ano do prémio Carlos Paredes pelo 5º festival bienal Cantar Abril, uma distinção que muito justamente liga dois nomes fundamentais da música popular portuguesa.
      (Sobre Bruno de Almeida ver "A verdadeira história", de 21 de Agosto de 2014.)

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