"Tar"/"The Color of Time" (2012) é um curto filme inesperado, escrito e realizado por 12 estudantes da New York University sobre o conhecido e laureado poeta americano C. K. Williams (1936-2015). Vi-o quase por acaso e tenho a ideia de que muito poucos mais o terão, mesmo por acaso, visto.
Composto como memórias do poeta, da infância até jovem adulto, transvasadas nos seus poemas, "Tar" tem a ingenuidade da juventude e de memórias felizes ou mais difíceis, que surgem dispersas em breves fragmentos, quase flashes do passado, enquanto o poeta lê e são lidos alguns dos seus poemas.
O filme interessa-me por dois motivos: primeiro porque procura traduzir poesia em filme, o que é raro e ainda mais raramente conseguido; segundo porque, composto como uma sucessão de curtas-metragens, com planos em geral curtos, por vezes bordejando o vídeo-clip, não se dispensa de recorrer ao grande-plano, ao plano de pormenor e, ocasionalmente, ao plano subjectivo, o que cria uma grande variedade expressiva.
"Tar" tem sopro, excertos livres, ritma-se ao sabor da memória e das palavras, também da música, mudando rapidamente de espaço e de tempo devido a uma montagem veloz. Num tal gesto de amor pela poesia e pelo cinema traduzido em experimentação conseguida, todas as críticas formais me parecem perfunctórias
Com James Franco a interpretar Williams na juventude, Jessica Chastain a interpretar a sua mãe ("os lábios da minha mãe)" e Mila Kunis como a sua jovem mulher, Catherine, com música de Garth Neustadter e Daniel Whol, "Tar" é um filme jovem, feliz e inspirado, que sem maçar enriquece e por isso aqui vivamente aconselho.
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