“Um não sei quê, que nasce não sei onde,/Vem não sei como, e dói não sei porquê.” Luís de Camões

"Na dor lida sentem bem,/Não as duas que êle teve,/Mas só a que êles não têm." Fernando Pessoa

"Lividos astros,/Soidões lacustres.../Lemes e mastros.../E os alabastros/Dos balaustres!" Camilo Pessanha

"E eu estou feliz ainda./Mas faz-se tarde/e sei que é tempo de continuar." Helder Macedo

"Conchas, pedrinhas, pedacinhos de ossos..." Camilo Pessanha

“Vem, vagamente,/Vem, levemente,/Vem sozinha, solene, com as mãos caídas/Ao teu lado, vem” Álvaro de Campos

"Chove nela graça tanta/que dá graça à fermosura;/vai fermosa, e não segura." Luís de Camões

domingo, 18 de outubro de 2015

Sobre poesia

    "Tar"/"The Color of Time" (2012) é um curto filme inesperado, escrito e realizado por 12 estudantes da New York University sobre o conhecido e laureado poeta americano C. K. Williams (1936-2015). Vi-o quase por acaso e tenho a ideia de que muito poucos mais o terão, mesmo por acaso, visto.
    Composto como memórias do poeta, da infância até jovem adulto, transvasadas nos seus poemas, "Tar" tem a ingenuidade da juventude e de memórias felizes ou mais difíceis, que surgem dispersas em breves fragmentos, quase flashes do passado, enquanto o poeta lê e são lidos alguns dos seus poemas.
                                    C. K. Williams
     O filme interessa-me por dois motivos: primeiro porque procura traduzir poesia em filme, o que é raro e ainda mais raramente conseguido; segundo porque, composto como uma sucessão de curtas-metragens, com planos em geral curtos, por vezes bordejando o vídeo-clip, não se dispensa de recorrer ao grande-plano, ao plano de pormenor e, ocasionalmente, ao plano subjectivo, o que cria uma grande variedade expressiva.
    "Tar" tem sopro, excertos livres, ritma-se ao sabor da memória e das palavras, também da música, mudando rapidamente de espaço e de tempo devido a uma montagem veloz. Num tal gesto de amor pela poesia e pelo cinema traduzido em experimentação conseguida, todas as críticas formais me parecem perfunctórias
     Com James Franco a interpretar Williams na juventude, Jessica Chastain a interpretar a sua mãe ("os lábios da minha mãe)" e Mila Kunis como a sua jovem mulher, Catherine, com música de Garth Neustadter e Daniel Whol, "Tar" é um filme jovem, feliz e inspirado, que sem maçar enriquece e por isso aqui vivamente aconselho.

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