Fico sempre sem palavras quando morre alguém de entre os que mais amo. Voltou a acontecer-me agora com a notícia da morte inesperada da cineasta belga Chantal Akerman (1950-2015).
Penso conhecer a quase totalidade da sua obra, uma das mais importantes do cinema dos últimos 50 anos e, para mim, a mais importante de uma mulher-cineasta.
Ligava-me a ela ter visto o fundamental "Jeanne Dielman: 23, Quai du Commerce: 1080 Bruxelles" (1975), um dos filmes mais importantes e influentes do primeiro século do cinema. A partir daí passei a acompanhar todos os seus filmes em festivais de cinema, em distribuição comercial ou na televisão. Sem ter gostado especialmente de "Um Divã em Nova Iorque"/"Un divan à New York" (1996) ou "Amanhã Mudamos de Casa"/"Demain on déménage" (2004), no entanto dois filmes muito bons, apreciei o seu regresso a um tom mais pessoal nos seus outros filmes, em que insistiu sempre e mesmo nesses dois filmes mais "comerciais", e por isso mais conhecidos, estava presente.
Depois de "Jeanne Dielman", entre "Os Encontros de Anna"/"Les rendez-vous d'Anna" (1978), "Toute une nuit" (1982), "Golden Eighties" (1986), "Letters Home" (1986), "Histoires d'Amérique" (1989), "Nuit et jour" (1991) e "A Cativa"/"La captive" (2000) Chantal Akerman construiu o melhor, que foi também o mais pessoal, da sua obra, .
Depois de "Jeanne Dielman", entre "Os Encontros de Anna"/"Les rendez-vous d'Anna" (1978), "Toute une nuit" (1982), "Golden Eighties" (1986), "Letters Home" (1986), "Histoires d'Amérique" (1989), "Nuit et jour" (1991) e "A Cativa"/"La captive" (2000) Chantal Akerman construiu o melhor, que foi também o mais pessoal, da sua obra, .
Mas os seus documentários foram também sempre excepcionais - "D'Est" (1993), "Sud" (1999), "De l'autre côté" (2002), "Là-bas" (2006), nomeadamente - e a sua passagem para a vídeo-instalação, que reforçou o seu estatuto de grande artista visual, um sucesso que pude acompanhar. Aí ela pôde, sem peias narrativas, prosseguir a estética do plano fixo e longo, aberto ao espaço mas também ao tempo, que em "Jeanne Dielman" inaugurara de forma superior, sem dela fazer questão quando não lhe interessava. Fiel à sua ascendência judaica, debruçou-se em alguns dos seus filmes sobre os locais e épocas mais controversos. Praticou também a curta-metragem, em que se iniciou em 1968, e o filme para televisão.
Chaltal Akerman foi, com Jean Eustache (1938-1981) e Philippe Garrel, dos últimos e melhores modernos do cinema europeu, surgidos a seguir à eclosão da nouvelle vague francesa e na mesma onda. Como com eles aconteceu, assumir a subjectividade da criação cinematográfica foi para ela absolutamente de rigor. (Sobre Chantal Akerman, ver "Obsessões", de 27 de Fevereiro de 2012, "Instalações em diálogo", de 26 de Outubro de 2012, e "O sopro das origens", de 24 de Outubro de 2014.)
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