Wes Anderson é um dos realizadores mais interessantes revelados no cinema americano desde o início do século - o filme que o revelou foi a sua terceira longa-metragem, "Os Tanenbaums - Uma Comédia Genial"/"The Royal Tanenbaums" (2001) - pelo que a estreia de "Moonrise Kingdom" (2012) merece toda a atenção. Ele não é, de facto, mais um numa lista de nomes velhos e novos que todos os dias nos chegam a assinar novos filmes, já que aquilo tem feito até agora revela uma frescura, uma novidade e um talento que não se encontram todos os dias no cinema.
Tendo a consciência do meio com que trabalha e dos meios que este utiliza, não pretende filiar-se em qualquer tradição específica mas os seus filmes são sempre notavelmente modernos e com um inequívoco cunho artístico, que a produção massificada geralmente não tem. Se em alguém ele me pode fazer pensar é em Tim Burton, por muito diferentes que possam ser, e sejam um do outro.
Efectivamente, "Moonrise Kingdom" confirma o que os seus filmes anteriores prometiam como fábula moderna sobre os míticos sixties, cuja lenda americana desmonta para melhor a fundamentar. Assumindo à partida a falsidade do meio e a fantasia daquilo que com ele narra, o cineasta volta a investir em personagens típicas reconhecíveis para rodearem um par de jovens em fuga, como em Nicholas Ray ou Terrence Malick quando jovens, mas mais novos, espécie de rebeldes com pequenas causas, no caso a causa do amor. Perserguidos pelos que os tolhem, eles vão acabar por encontrar refúgio e protecção enquanto os pais dela, um polícia e uma assistente social, figuras-tipo e figuras típicas, os perseguem e, enquanto os perseguem se revelam e revelam a sociedade.
De uma maneira leve, irónica e artística Wes Anderson vem chamar a atenção para os mais novos, para o que assume o lado mais expressivo da arte do cinema do lado do falso que é próprio das fábulas, dos contos de fadas, que aliás surgem muito a propósito no interior do filme, sem esquecer os adultos, instalados nos seus pequenos compromissos e nas suas limitadas vidas, o que pela maneira como é feito dá conta de uma nova sensibilidade de uma nova geração muito promissora do cinema americano. Do ponto de vista formal muito moderno, com planos frontais e frequente rejeição da comodidade do campo-contracampo, com os actores a olharem para a câmara e um narrador que fala com os espectadores, o filme estrutura-se musicalmente de um modo muito interessante e apelativo do genérico inicial ao genérico do fim, no que demonstra uma sensibilidade que inclui o lado sonoro sem receios e sem complexos, muito apropriadamente e com brio. A referência central é aí a música inglesa, Benjamin Britten, mas surgem também referências francesas de época.
Contando com nomes conhecidos no elenco - Bruce Willis, Edward Norton, Bill Murray, Frances McDormand, Tilda Swinton, Harvey Keitel -, além dos jovens Jared Gilman e Kara Hayward, e com Roman Coppola como co-argumetista, o cineasta faz com eles nos cenários que escolheu o filme que quer da melhor maneira, passando por dos seus actores recolher figura e máscara inexpressiva, o que nos seus filmes é sempre muito importante, essencial mesmo, e é corroborado por "O Fantástico Senhor Raposo"/"Fantastic Mr. Fox" (2009), o seu surpreendente filme anterior, de animação. Chamo a
atenção para que Anderson está sempre presente também no argumento de todos os seus filmes. Com "Moonrise Kingdom" ele continua a trazer algo de novo e refrescante ao cinema que funciona como alternativa séria, credível e muito bem vinda ao cinema oficial de Hollywood, numa altura em que este se tornou, de modo geral, eminentemente bocejante ou/e infantil.
Outro artista americano? Oh, sim! E destes eu gosto. A este nível de fantasia pode reconhecer-se o cinema americano no seu melhor de inventiva e criatividade. De Wes Anderson, quanto mais melhor. É a leveza do filme na leveza dos tempos, tratando inteligentemente coisas sérias como se brincasse para que tudo seja claro, límpido e superior em termos fílmicos e em termos humanos, o que vem confirmar que uma nova geração muito interessante se está a impôr também no cinema americano.
Outro artista americano? Oh, sim! E destes eu gosto. A este nível de fantasia pode reconhecer-se o cinema americano no seu melhor de inventiva e criatividade. De Wes Anderson, quanto mais melhor. É a leveza do filme na leveza dos tempos, tratando inteligentemente coisas sérias como se brincasse para que tudo seja claro, límpido e superior em termos fílmicos e em termos humanos, o que vem confirmar que uma nova geração muito interessante se está a impôr também no cinema americano.
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