O australiano John Hillcoat regressou ao nosso convívio com um interessante "Dos Homens Sem Lei"/"Lawless" (2012), feito como o anterior "A Estrada"/"The Road", baseado no romance homónimo de Cormac McCarthy, nos Estados Unidos. No argumento, tal como em "Escolha Mortal"/"The Proposition" (2005), volta a estar Nick Cave. Começo mesmo por aí.
É conhecida a relação de John Hillcoat com a música, de Nick Cave e de outros, através da realização de clips musicais, o que se nota ainda na construção deste seu último filme: planos curtos, uso frequente do grande-plano, momentos em que a música (de Nick Cave e Warren Ellis) assume uma função dominante. Por outro lado, se "Escolha Mortal" foi oportunamente classificado como western revisionista, também este novo filme de John Hillcoat pode ser visto como um filme de gangsters revisionista. Eu explico-me.
No filme de gangsters clássico, por todas as razões mais o Código Hays as coisas acabavam mal para o(s) protagonista(s), como judiciosamente observa Gilles Deleuze, e o filme de gangsters moderno, a partir de "Bonnie & Clyde" (1967) sobretudo, vai no mesmo sentido. Ora o que acontece em "Dos Homens Sem Lei", baseado no romance “The Wettest County in the World” de Matt Bondurant, neto e sobrinho-neto dos protagonistas, que decorre em Franklin County, na Virgínia, durante os anos da proibição, é justamente o contrário: os irmãos Bondurant, Howard/Jason Clarke, o mais velho, Jack/Shia LaBeouf, o mais novo, que é também o narrador, Forrest/Tom Hardy, o líder, levam a melhor sobre uma lei fragilizada por um diabólico Charlie Rakes/Guy Pearce, que vai acabar às mãos daqueles que perseguira sem deixar saudades.
Tal como em "Escolha Mortal", nota-se aqui uma certa influência dos westerns crepusculares de Sam Peckinpah pela encenação de conflitos extremos em meios primitivos e pelo excesso gráfico da violência, embora sem o seu domínio da duração dos planos pelas razões acima adiantadas. Apesar disso, também aqui Hillcoat mostra um bom domínio da mise en scène que, contudo, como nos seus filmes anteriores, gira um tanto no vazio - o que em "A Estrada", o seu melhor filme até agora, até vinha a propósito.
Contando com uma sempre excelente Jessica Chastain como Maggie, com Mia Wasikowska como Bertha e Gary Oldman como Floyd Banner, além de Benoît Delhomme na direcção da fotografia, que já assinara em "Escolha Mortal", "Dos Homens Sem Lei" assinala o regresso de um cineasta estimável, que aqui se saúda por assinalar mais uma etapa num percurso relevante no cinema actual, tanto mais quanto é uma nova colaboração com Nick Cave, consistente com os seus filmes anteriores e que volta a revelar-se frutuosa, e por ir num sentido a que se deve estar atento ao prosseguir uma inflexão de género que deve ser notada.
É conhecida a relação de John Hillcoat com a música, de Nick Cave e de outros, através da realização de clips musicais, o que se nota ainda na construção deste seu último filme: planos curtos, uso frequente do grande-plano, momentos em que a música (de Nick Cave e Warren Ellis) assume uma função dominante. Por outro lado, se "Escolha Mortal" foi oportunamente classificado como western revisionista, também este novo filme de John Hillcoat pode ser visto como um filme de gangsters revisionista. Eu explico-me.
No filme de gangsters clássico, por todas as razões mais o Código Hays as coisas acabavam mal para o(s) protagonista(s), como judiciosamente observa Gilles Deleuze, e o filme de gangsters moderno, a partir de "Bonnie & Clyde" (1967) sobretudo, vai no mesmo sentido. Ora o que acontece em "Dos Homens Sem Lei", baseado no romance “The Wettest County in the World” de Matt Bondurant, neto e sobrinho-neto dos protagonistas, que decorre em Franklin County, na Virgínia, durante os anos da proibição, é justamente o contrário: os irmãos Bondurant, Howard/Jason Clarke, o mais velho, Jack/Shia LaBeouf, o mais novo, que é também o narrador, Forrest/Tom Hardy, o líder, levam a melhor sobre uma lei fragilizada por um diabólico Charlie Rakes/Guy Pearce, que vai acabar às mãos daqueles que perseguira sem deixar saudades.
Tal como em "Escolha Mortal", nota-se aqui uma certa influência dos westerns crepusculares de Sam Peckinpah pela encenação de conflitos extremos em meios primitivos e pelo excesso gráfico da violência, embora sem o seu domínio da duração dos planos pelas razões acima adiantadas. Apesar disso, também aqui Hillcoat mostra um bom domínio da mise en scène que, contudo, como nos seus filmes anteriores, gira um tanto no vazio - o que em "A Estrada", o seu melhor filme até agora, até vinha a propósito.
Contando com uma sempre excelente Jessica Chastain como Maggie, com Mia Wasikowska como Bertha e Gary Oldman como Floyd Banner, além de Benoît Delhomme na direcção da fotografia, que já assinara em "Escolha Mortal", "Dos Homens Sem Lei" assinala o regresso de um cineasta estimável, que aqui se saúda por assinalar mais uma etapa num percurso relevante no cinema actual, tanto mais quanto é uma nova colaboração com Nick Cave, consistente com os seus filmes anteriores e que volta a revelar-se frutuosa, e por ir num sentido a que se deve estar atento ao prosseguir uma inflexão de género que deve ser notada.
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