Sempre
tive uma grande curiosidade pela Suécia e a sua cultura, com a qual
travei contacto precoce através dos primeiros filmes de Ingmar Bergman
que pude ver e me despertaram a curiosidade. Depois conheci August Strindberg, Selma Lagerlöf e um pouco Pär Lagerkvist, mais tarde o cinema sueco, que foi tão importante em especial no tempo do mudo: Victor Sjöström, Mauritz Stiller e Greta Garbo,
Gustaf Molander e Ingrid Bergman, Alf Sjöberg, Bo Widerberg, os filmes iniciais de
Vilgot Sjöman, dos anos 60, além do próprio Ingmar Bergman, que
continuei a acompanhar, sempre e até ao fim (ver "Eles, os modernos", 22 de Janeiro de 2012). Mais recentemente, são muito conhecidos os livros da trilogia "Milleninum", de Stieg Larsson (1954-2004) e os filmes, suecos e em língua inglesa, nela inspirados (ver "O tempo outra vez", 22 de Abril de 2012).
Desde o final do ano passado que a minha curiosidade pela Suécia foi acicatada de novo pela leitura de Henning Mankell, grande escritor de literatura policial
mas cujo talento, como o dos verdadeiramente grandes, se expande melhor
fora do género - ou, para ser mais preciso, nos romances sem Kurt
Wallander - embora o que me despertou a curiosidade tenha sido o título
do seu último livro, "Um Homem Inquieto" (Lisboa, Presença, 2012), e
agora mesmo pela leitura, em francês, de Tomas Tranströmer, Prémio Nobel
da Literatura em 2011 e que é um poeta extraordinário. Fico sempre
muito divertido quando este prémio apanha desprevenidas as editoras
portugueses, que apostam nas suas edições correntes nos nomes
considerados mais famosos e mais falados e depois são apanhadas descalças, como aconteceu neste caso - para mais o de um poeta.
Depois do Nobel
foi já feita uma edição bilingue de "50 Poemas" de Tranströmer (Lisboa,
Relógio d'Água, 2012, com tradução e nota introdutória de Alexandre
Pastor), e traduzido «"As minhas lembranças observam-me", seguido de "Primeiros Poemas (inéditos)"» (Lisboa, Sextante, 2012, com pósfácio de Pedro Mexia), mas só agora consegui chegar à edição francesa de "Baltiques - Oeuvres
complètes 1954-2004" (Paris, Gallimard, 2004/2011, com tradução e
prefácio de Jacques Outin, nota prévia de Kjell Espmark e posfácio de
Renaud Ego) e assim dar-me conta da verdadeira dimensão deste poeta.
No
prefácio desta edição, Tranströmer é qualificado como "poeta do
silêncio", mas há que compreender que esse silêncio é, na sua poesia,
captado a partir do exterior, da vida e do mundo, para o que se torna
necessária uma grande disponibilidade, uma muito especial sensibilidade e uma inteligência aguda. Um poeta que ouve
esse silêncio e sobre ele escreve, um silêncio, múltiplos silêncios no
meio do ruído, dos ruídos do mundo, pode, como é o caso, pressentir e entrever o que ao comum dos mortais escapa e, ao dizê-lo ou confessar-se incapaz de o dizer, surpreender, intrigar e fascinar.
Ora
esse silêncio povoado ele vai procurá-lo e encontrá-lo na sua terra e
no mundo pelo qual viajou, estabelecendo relações preferenciais e
privilegiadas com a neve, a montanha, a floresta, os fiordes e o mar, mas também com a arte, a arquitectura, a pintura e, especialmente, a música, na busca de um outro lado das coisas que elas, na sua comum aparência, escondem. Tomas Tranströmer é, de facto, um dos maiores poetas da segunda metade do Século XX e do início do XXI, uma voz de uma limpidez cristalina e inequívoca, que não engana nem se engana na procura de um outro lado escondido no tempo e no espaço. Perseguido pelo sonho e acompanhado pela ideia da morte, com recurso a palavras secas e a construção de uma linguagem precisa, um domínio pleno da metáfora e da elipse, ele cria uma poesia exacta e luminosa, que enuncia e anuncia uma perspectiva original,
metafísica e cósmica, a partir do sensível. Depurados, e com o decorrer
do tempo cada mais reduzidos ao essencial, os seus poemas são uma
verdadeira maravilha.
Tendo
chegado a ele depois de ter descoberto o melhor de Mankell, que é um
grande conhecedor da natureza humana, do seu país e do mundo actual, e
um grande escritor, aumentou o meu interesse e a minha curiosidade pelo
Norte da Europa, por essa paisagem natural e urbana da Suécia, pelo seu
povo e pela sua cultura que, distantes embora, nos conhecem e não nos são estranhos. Depois de ter lido Tranströmer na língua de Paul Éluard e Yves Bonnefoy, preciso de conhecer a Suécia, um país que tem escritores e artistas que não brincam com a vida nem com o que fazem, descobrem um mundo em que se descobrem e que nos revela, dizem coisas que me interessam e não encontro em mais lado nenhum. Há uma mundivivência especial, uma atitude própria perante a vida e o mundo, uma história, lendas, mitos e sagas, uma notória seriedade, uma integridade intelectual escandinava, em geral, e sueca, em especial, que não teme, antes enfrenta o lado mais sombrio da vida e do mundo e que não devo deixar escapar-me por mais tempo.
Entretanto, vou continuar a ler Henning Mankell, em português, nos intervalos e reler Tranströmer, em francês, logo que possa, enquanto tento indagar mais sobre a cultura sueca, incluindo o seu cinema actual, do qual, assim de repente, só tenho presentes Lukas Moodysson - "Lilya Para Sempre"/"Lilya 4-ever" (2002) - e o muito interessante Tomas Alfredson - "Deixa-me entrar"/"Let The Right One In"/"Lât den rätte komme in" (2008) e "A Toupeira"/"Tinker Tailor Soldier Spy" (2011). Ficarei deliciado por continuar a ser ainda hoje surpreendido por um país cuja cultura me atrai, e que, por isso, como país chama por mim e quero conhecer. E mesmo ao lado fica a Finlândia de Aki Kaurismäki.
Entretanto, vou continuar a ler Henning Mankell, em português, nos intervalos e reler Tranströmer, em francês, logo que possa, enquanto tento indagar mais sobre a cultura sueca, incluindo o seu cinema actual, do qual, assim de repente, só tenho presentes Lukas Moodysson - "Lilya Para Sempre"/"Lilya 4-ever" (2002) - e o muito interessante Tomas Alfredson - "Deixa-me entrar"/"Let The Right One In"/"Lât den rätte komme in" (2008) e "A Toupeira"/"Tinker Tailor Soldier Spy" (2011). Ficarei deliciado por continuar a ser ainda hoje surpreendido por um país cuja cultura me atrai, e que, por isso, como país chama por mim e quero conhecer. E mesmo ao lado fica a Finlândia de Aki Kaurismäki.
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