A Hammer Films fez história no cinema inglês pela sua produção de filmes de terror, que assinalaram uma época entre os anos 50 e o início dos 70 do Século XX e nele deixaram uma das suas marcas mais originais. Depois de nas décadas de 80 e 90 se ter dedicado à produção de séries de televisão, a Hammer está de regresso à produção cinematográfica, no género em que se celebrizou, desde 2010, com o excelente "Deixa-me Entrar"/""Let Me In", de Matt Reeves", baseado no surpreendente filme homónimo de 2008 do sueco Tomas Alfredson, e agora com "A Mulher de Negro"/"The Woman in Black", o segundo filme do inglês James Watkins (2012), com argumento de Jane Goldman baseado em romance de Susan Hill.
Saúdo este regresso, que considero muito oportuno e auspicioso, pois do seu tratamento inglês o filme de terror, manifestamente desgastado nos Estados Unidos num trabalho moderno entre living deads e evil deads, pode colher grande benefício, como mais este filme demonstra ao recuperar
muito bem o estilo dos melhores filmes da Hammer dos anos 50 e 60,
nomeadamente o dos dirigidos por Terence Fisher (1904-1980) - tem mesmo um
casal que se chama Fisher -, interpretados por Peter Cushing e
Christopher Lee. A mansão assombrada, a aldeia aterrada, tudo está muito bem recriado e filmado, com um perfeito domínio formal. A narrativa em si mesma tem uma marca feminina muito forte, pois trata de uma mulher a quem morreu o filho, que lhe tinha sido tirado por incapacidade mental para dele cuidar e entregue a uma família de adopção. Depois da sua morte, ela passa a assombrar a mansão, agora abandonada.
A marca feminina do filme vem, naturalmente, das duas mulheres que estiveram na origem da narrativa, mas o que chamará mais a atenção é o facto de o protagonista, Arthur Kipps, ser interpretado por Daniel Radcliff, o famoso intérprete de Harry Potter, o que não será alheio ao sucesso do filme - aliás ele está muito bem num papel que lhe assenta bem, o de um jovem advogado, viúvo e com um filho, que é enviado pela firma para que trabalha com a missão de vender a mansão assombrada. Mas o que considero mais importante é a elegância do estilo que o filme assume e recupera, dos cenários aos movimentos de câmara, com o qual nos faz revisitar alguns dos lugares-comuns do filme de terror clássico na paisagem magnífica do countryside inglês.
De facto, "A Mulher de Negro" tem tudo o que é suposto ter: a mansão assombrada, a aldeia aterrada e revoltada, a maldição, velhas fotografias e gravuras, corredores escuros, portas que se abrem por si ou por si se negam a abrir, ruídos estranhos, velas, um companheiro local do herói (Jerome/Tim McMullan), o cemitério, um pântano, objectos que se movem por si próprios. Mas mais do que isso, e incluindo-o, na sua serena elegância formal o filme tem ritmo, duração dos planos - composição formal, cinematográfica, não apenas de cada plano mas no seu todo.
Num momento em que o cinema atravessa a crise, até de credibilidade, que se conhece, é natural que ele se volte para o passado, e a Hammer é uma das referências maiores do cinema inglês. "A Mulher de Negro" é um filme muito bom, que cumpre com inteligência e desembaraço o programa que para si mesmo traçou, confirmando assim que essa foi uma boa ideia.
O que pode haver de aparentemente "fora de moda", de contracorrente em recuperar os filmes da Hammer é muito bem compensado pelo tom feminino, moderno, e pelo grande apuro formal que marca o filme e o singulariza de maneira eficiente e convincente. O filme de terror inglês está, pois, de regresso no seu melhor, e há que contar com ele. E a mulher como fantasma tem antecedentes notáveis no cinema, pelo menos desde "Rebecca" (1940), o primeiro filme feito na América pelo inglês Alfred Hitchcock, responsável pelo melhor filme de terror de sempre, "Psico"/"Psycho" (1960), um filme como este assombrado pela figura materna.
O que pode haver de aparentemente "fora de moda", de contracorrente em recuperar os filmes da Hammer é muito bem compensado pelo tom feminino, moderno, e pelo grande apuro formal que marca o filme e o singulariza de maneira eficiente e convincente. O filme de terror inglês está, pois, de regresso no seu melhor, e há que contar com ele. E a mulher como fantasma tem antecedentes notáveis no cinema, pelo menos desde "Rebecca" (1940), o primeiro filme feito na América pelo inglês Alfred Hitchcock, responsável pelo melhor filme de terror de sempre, "Psico"/"Psycho" (1960), um filme como este assombrado pela figura materna.
Foi a Hammer que me levou a começar o meu blog, e gostei muito deste regresso. Que seja para continuar!
ResponderEliminarCumprimentos.