“Um não sei quê, que nasce não sei onde,/Vem não sei como, e dói não sei porquê.” Luís de Camões

"Na dor lida sentem bem,/Não as duas que êle teve,/Mas só a que êles não têm." Fernando Pessoa

"Lividos astros,/Soidões lacustres.../Lemes e mastros.../E os alabastros/Dos balaustres!" Camilo Pessanha

"E eu estou feliz ainda./Mas faz-se tarde/e sei que é tempo de continuar." Helder Macedo

"Conchas, pedrinhas, pedacinhos de ossos..." Camilo Pessanha

“Vem, vagamente,/Vem, levemente,/Vem sozinha, solene, com as mãos caídas/Ao teu lado, vem” Álvaro de Campos

"Chove nela graça tanta/que dá graça à fermosura;/vai fermosa, e não segura." Luís de Camões

domingo, 14 de junho de 2015

Agora nem de patins

     "Enquanto somos jovens"/"While We Are Young", de Noah Baumbach (2014), é mais um filme muito bom do cineasta novaiorquino, que se instala desde o seu início na relação entre os mais velhos e os mais novos com a citação de Henrik Ibsen, para se alargar depois sobre o assunto em pleno meio do documentário.
                   Adam Driver inspires Ben Stiller to foolishness and hat-wearing in the first While We’re Young trailer
      Situado em New York e a partir da cidade, o filme em momento nenhum abre mão do seu ponto de partida, entre o casal mais velho, Josh/Ben Stiller e Cornelia/Naomi Watts, e o casal mais novo, Jamie/Adam Driver e Darby/Amanda Seyfried, com o qual, sem saber porquê, literalmente o primeiro tropeçou. Com grandes actores a darem o seu melhor no registo justo, o cineasta acompanha a trajectória, que se revela ascendente, de Jamie e o impasse em que está Josh na sua meia-idade, incompreendido e ofuscado por ter quem diz admirar o seu trabalho e pede a sua colaboração
      Não é, pois, sem surpresa que Josh (e nós com ele) descobre a cilada em que, apoiando-se na geração anterior à sua (o pai de Cornelia), foi apanhado por Jamie, que literalmente o manietou, apesar do casal amigo da mesma idade que estabelece o contraponto possível e da incursão xamânica (inspirar, expirar). No final, nem de patins o protagonista consegue chegar a tempo de expor o seu falso admirador e discípulo, pois tudo entrou já no discurso público, oficial, onde vai singrar apesar dele e até à sua custa. 
                  
     "Enquanto somos jovens" faz questão de mostrar e demonstrar (e por isso conto a história) que, perante a diferença de idade e de meios, a ética pode assumir no documentário contornos indecisos, vagos - e quando isso acontece é preciso, em qualquer sector, sempre a maior atenção e o maior cuidado - perante o imediatismo da comunicação actual. Com uma realização muito boa, a montagem do final muito bem dada e uma música muito animada e bem escolhida, com Vivaldi em lugar de destaque, este um filme que nos tira da sensaboria da produção actual pelas melhores razões.
      É bom dar pela presença de passagem de Peter Bogdanovich num filme em que o cineasta volta a ser argumentista e produtor (sobre Noah Baumbach ver "Fresca e encalhada", de 30 de Outubro de 2013).

Sem comentários:

Enviar um comentário