"Enquanto somos jovens"/"While We Are Young", de Noah Baumbach (2014), é mais um filme muito bom do cineasta novaiorquino, que se instala desde o seu início na relação entre os mais velhos e os mais novos com a citação de Henrik Ibsen, para se alargar depois sobre o assunto em pleno meio do documentário.
Situado em New York e a partir da cidade, o filme em momento nenhum abre mão do seu ponto de partida, entre o casal mais velho, Josh/Ben Stiller e Cornelia/Naomi Watts, e o casal mais novo, Jamie/Adam Driver e Darby/Amanda Seyfried, com o qual, sem saber porquê, literalmente o primeiro tropeçou. Com grandes actores a darem o seu melhor no registo justo, o cineasta acompanha a trajectória, que se revela ascendente, de Jamie e o impasse em que está Josh na sua meia-idade, incompreendido e ofuscado por ter quem diz admirar o seu trabalho e pede a sua colaboração
Não é, pois, sem surpresa que Josh (e nós com ele) descobre a cilada em que, apoiando-se na geração anterior à sua (o pai de Cornelia), foi apanhado por Jamie, que literalmente o manietou, apesar do casal amigo da mesma idade que estabelece o contraponto possível e da incursão xamânica (inspirar, expirar). No final, nem de patins o protagonista consegue chegar a tempo de expor o seu falso admirador e discípulo, pois tudo entrou já no discurso público, oficial, onde vai singrar apesar dele e até à sua custa.
"Enquanto somos jovens" faz questão de mostrar e demonstrar (e por isso conto a história) que, perante a diferença de idade e de meios, a ética pode assumir no documentário contornos indecisos, vagos - e quando isso acontece é preciso, em qualquer sector, sempre a maior atenção e o maior cuidado - perante o imediatismo da comunicação actual. Com uma realização muito boa, a montagem do final muito bem dada e uma música muito animada e bem escolhida, com Vivaldi em lugar de destaque, este um filme que nos tira da sensaboria da produção actual pelas melhores razões.
É bom dar pela presença de passagem de Peter Bogdanovich num filme em que o cineasta volta a ser argumentista e produtor (sobre Noah Baumbach ver "Fresca e encalhada", de 30 de Outubro de 2013).
É bom dar pela presença de passagem de Peter Bogdanovich num filme em que o cineasta volta a ser argumentista e produtor (sobre Noah Baumbach ver "Fresca e encalhada", de 30 de Outubro de 2013).
Sem comentários:
Enviar um comentário