Contemporâneo de Federico Fellini, de quem foi amigo, Ettore Scola - autor, entre outros, de "Feios, Porcos e Maus"/"Brutti, sporchi e cattivi" (1976), "Um Dia Inesquecícivel"/"Una giornata particolare" (1977), "A Noite de Varennes"/"La nuit de Varennes" (1982), "O Baile"/"Le bal" (1983), "Esplendor"/"Splendor" (1989) - era o homem indicado para fazer em filme uma evocação do mais famoso cineasta italiano do pós-guerra. O mais famoso e um dos melhores, que tirou o cinema italiano da sensaboria dos grandes mestres sérios e sábios, como foram Roberto Rossellini, Luchino Visconti e Michelangelo Antonioni.
"Que Estranho Chamar-se Federico - Scola sobre Fellini"/"Che strano chiamarsi Federico" (2013) começa por reconstituir os inícios de ambos quando jovens desenhadores satíricos, Ettore/Giacomo Lazotti onze anos mais novo do que Federico/Tommaso Lazotti, em pleno fascismo italiano, com brio e pertinência, para depois se dedicar à carreira daquele que cunhou o título de felliniano, que ele próprio dizia não saber o que significava, com recurso a imagens de arquivo e a uma reconstituição ficcional, vistosa mas mais discreta, com ambos mais velhos - Fellini/Maurizio De Santis, Scola/Giulio Forgis Davanzati -, sempre a partir das memórias do segundo.
Permitindo recordar com justeza um dos nomes maiores do cinema mundial visto por um outro grande cineasta, "Que Estranho Chamar-se Federico - Fellini por Scola" não perde de vista o sorriso nem aquilo que o próprio Fellini considerava ser: um grande mentiroso. Toda a discussão sobre a arte com o pintor de rua está muito bem vista no filme, que tem argumento de Ettore, Paola e Silvia Scola e conta com Vittorio Viviani como extravagante narrador.
Com muito boas transições entre o preto e branco e a cor, Incluindo imagens pouco conhecidas de Fellini e excertos de filmes seus, além de uma reconstituição artificial mas igualmente sentida da amizade dos dois com Marcello Mastroianni/Ernesto D'Argenio, o filme de Ettore Scola constitui uma homenagem muito bem-vinda ao genial criador de "As Noites de Cabíria"/"Le notti di Cabiria" (1957), "A Doce Vida"/"La dolce vita" (1960), "Fellini Oito e Meio"/"Otto e mezzo" (1963), entre tantas outras obras-primas, e a toda uma época de ouro do cinema italiano, num momento em que o cinema precisa de recordar os grandes nomes do seu passado para não continuar a perder-se em banalidades boçais. Seria bom que os organizadores de retrospectivas de clássicos do cinema em Portugal não se esquecessem dele.
Nota: Cf., em português, "Federico Fellini: Sou um Grande Mentiroso - Uma conversa com Damian Pettigrew" (Lisboa: Fim de Século, 2008).
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