"Borgman: O Mal Intencionado"/"Borgman", de Alex van Warmerdam (2013), o primeiro filme que vejo deste cineasta holandês, é uma obra cinematográfica surpreendente e perturbadora de grande qualidade.
Com os seus elementos narrativos muito bem lançados desde o início, a progressiva perturbação e inquietação que o protagonista, Camiel Borgman/Jan Bijvoet vai, com os seus cúmplices, estabelecendo entre aqueles que o acolhem como jardinairo, o casal abastado Marina/Hadewych Minis e Richard/Jeroen Perceval, perturbação e inquietação que são sem explicação outra que a identidade deles como vampiros, está muito bem dada em termos fílmicos
No desconhecimento do que está a acontecer verdadeiramente e de quem lhes invade a vida, o casal e os filhos, a nanny e o namorado desta, o médico, enfim todos são um a um arrastados para o fim inelutável que os espera, de que nada nem ninguém sabe e, por isso mesmo, os pode salvar.
O negro estabelecido pelo filme tem intérpretes sempre justos e uma realização muito boa, seca mas expressiva, que transmite na perfeição o carácter terrível e inevitável da máquina posta a funcionar que se vai estabelecendo entre aquela gente comum na sua vida normal. Eles são abastados, os que os invadem são o quê?
Com tudo a funcionar no momento preciso da maneira exacta, como num mecanismo de precisão, "Borgman: O Mal Intencionado" é, sem ênfase narrativa nenhuma (o argumento é do próprio cineasta, que também aparece como actor no papel de Ludwig), um grande filme de terror subreptício provocado por um mal absoluto - a fotografia de Tom Erisman é excelente, a música de Vincent van Warmerdan é, ela também, justa e expressiva, a montagem de Job ter Burg perfeita.
Tenham medo. Tenham todos muito medo. O mal pode vir por boas razões? A questão, liminarmente colocada no cinema pelo expressionismo alemão (Friedrich W. Murnau, Fritz Lang, em especial), encontra uma nova proposta de resposta neste perturbador e excelente filme de Alex van Warmerdam.
Nota: Sobre o Mal é neste momento imprescindível "A Filosofia e o Mal - Banalidade e Radicalidade do Mal de Hannah Arendt a Kant", de António Marques (Lisboa: Relógio d'Água, 2015).
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