"A Lei do Mercado"/"La loi du marché", de Stéphane Brizé (2015), é o primeiro filme do realizador francês, também co-argumentista com Olivier Gorce, que vejo e constitui uma surpresa agradável.
Um tanto na linha dos irmãos Jean-Pierre e Luc Dardenne mas atendo-se à crise actual, ao desemprego e à dificuldade de dele sair, o cineasta acompanha de muito perto o protagonista, Thierry Taugourdeau/Vincent Lindon, entre a procura de novo emprego depois de ter sido abrangido por um despedimento colectivo, a tentativa de, com a mulher/Karine de Mirbeck, ajudar o filho/Matthieu Schaller, deficiente mas com grandes capacidades intelectuais, e a tentativa de vender a sua auto-caravana para enfrentar os tempos de maior dificuldade, enquanto aprende movimentos básicos entre a ginástica e a dança.
Encontrado emprego, mesmo se com salário inferior, acompanha o mesmo Thierry no seu desempenho como segurança de um supermercado, e então o filme confronta-o e confronta-nos com as dificuldades dos outros, daqueles que, semelhantes a ele e a nós, têm comportamentos abusivos como clientes e também como empregados. Introduzindo a omnivisão panóptica, a videovigilância está muito justamente utilizada, e é quando se atinge este último patamar que o protagonista, quase sempre enquadrado de muito perto - três quartos de trás ou da frente do rosto - parece atingir o seu limite de resistência.
Sem tentar dar lições a ninguém mas enfrentando com liberdade e sem ambiguidade as questões mais sensíveis enfrentadas por trabalhadores que aceitam o que aparece para evitar passar de um "desemprego temporário" a um "desemprego prolongado" - e assim evitam passar ao "exército permanente de reserva" - e se reintegram numa sociedade produtiva em que os problemas continuam (o que é preciso perceber aqui), "A Lei do Mercado" desafia-nos a todos na nossa boa consciência, o que é muito bom e está muito bem feito.
Se Vincent Lindon está excelente, com grande sobriedade sempre em tom expressivo justo que nos traz à memória grandes actores do passado no cinema francês mas também no americano, a realização remete mais para John Cassavetes e o seu "cinema do corpo", com actores inexpressivos nas situações mais difíceis enquadrados de perto em plano fixo, do que para os Dardenne e constitui a chave para o sucesso artístico do filme.
Se Vincent Lindon está excelente, com grande sobriedade sempre em tom expressivo justo que nos traz à memória grandes actores do passado no cinema francês mas também no americano, a realização remete mais para John Cassavetes e o seu "cinema do corpo", com actores inexpressivos nas situações mais difíceis enquadrados de perto em plano fixo, do que para os Dardenne e constitui a chave para o sucesso artístico do filme.
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