“Um não sei quê, que nasce não sei onde,/Vem não sei como, e dói não sei porquê.” Luís de Camões

"Na dor lida sentem bem,/Não as duas que êle teve,/Mas só a que êles não têm." Fernando Pessoa

"Lividos astros,/Soidões lacustres.../Lemes e mastros.../E os alabastros/Dos balaustres!" Camilo Pessanha

"E eu estou feliz ainda./Mas faz-se tarde/e sei que é tempo de continuar." Helder Macedo

"Conchas, pedrinhas, pedacinhos de ossos..." Camilo Pessanha

“Vem, vagamente,/Vem, levemente,/Vem sozinha, solene, com as mãos caídas/Ao teu lado, vem” Álvaro de Campos

"Chove nela graça tanta/que dá graça à fermosura;/vai fermosa, e não segura." Luís de Camões

quinta-feira, 5 de maio de 2016

O doce e o amargo

   Atrasado como quase sempre, só esta semana consegui ver no Arte "A Lancheira"/"Dabba"/"The Lunchbox", de Ritesh Batra, também autor do argumento e de quem é a primeira  longa-metragem (2013).
                   
      Trata-se de um filme muito bom, que surpreende no panorama actual do cinema indiano, mesmo internacional. Resolvido narrativamente entre Saajan Fernandes/Irrfan Kanh, viúvo, funcionário de uma seguradora próximo da reforma, e Ila/Nimrat Kaur, mais nova, casada e como uma filha, que lhe envia todos os dias o almoço convencida de que o faz para o marido, o filme manifesta grande subtlileza ao concentrar-se na troca de bilhetes entre eles a propósito das refeições.
       Ela tem um marido de fugida, que acaba por a enganar, uma vizinha invisível mas audível e operante, a mãe com o pai doente e a filha, enquanto ele tem um jovem aprendiz, Shaick/Nawazuddin Siddiqui, destinado a substituí-lo e que lhe causa problemas. É deste que parte a sugestão de "comboios errados que conduzem ao destino certo".  
                    
       Passado em Bombaim, com apontamentos saborosos do quotidiano "A Lancheira" revela grande acerto na tensão crescente em dúvida que estabelece desde o início até ao encontro falhado dos protagonista e o retomar incerto da sua relação epistolar, sem resolver o caso mas deixando aberto o caminho do futuro.
         Com esta sua bela estreia no cinema, em que tecnicamente tudo está perfeito - a fotografia de Michael Simmonds, a  música de Max Richter, a montagem de John F Lyons e as interpretações - e é emocionalmente superior na narrativa, Ritesh Batra é um nome a seguir com atenção no cinema indiano e internacional.

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