Estreou em Portugal "Rainha do Deserto"/"Queen of the Desert", de Werner Herzog (2015), um filme de ficção que reconstitui a vida de Gertrude Bell/Nicole Kidman, inglesa que entre o final do Século XIX e as primeiras décadas do Século XX percorreu o Médio Oriente, onde se cruzou com T. E. Lawrence/Robert Pattinson.
Filmando em Marrocos, na Jordânia e em Inglaterra, é com grande mestria que o cineasta alemão radicado há uns anos nos Estados Unidos trabalha sobre argumento seu num filme que ressoa a biopic de que, contudo, sabe evitar o lado menos agradável. De facto, indo ao essencial da vida da protagonista o filme desenrola-se entre dois encontros amorosos efémeros dela, o primeiro com Henry Cadogan/James Franco, o segundo com Charles Doughty-Wylie/Damian Lewis, ambos diplomatas (o segundo mais destacado do que o primeiro), o que confere um equilíbrio notável ao quadro narrativo.
Talvez sejam, contudo, as longas excursões dela pelo deserto ao encontro de diversas tribos e chefes árabes que maior interesse apresentam e mais prendem no filme por retratarem um percurso difícil e perigoso que raramente uma mulher terá feito. E mesmo assim a história de Gertrude Bell não está completamente contada.
Com uma excelente interpretação de Nicole Kidman, "Rainha do Deserto" segue a protagonista na sua vida aventurosa, acompanhada pelo seu fiel guia Fattuh/Jay Abdo, num tempo, entre o fim anunciado o Império Otomano e a I Guerra Mundial, em que o Império Britânico existia ainda, o que torna todas as suas notações históricas e políticas extremamente interessantes na actualidade.
A mestria do cineasta está em escolher sempre o mais importante e como melhor o filmar, não abdicando de, com a sua criatividade, fazer uma recriação de época muito audaciosa e com todas as referências históricas pertinentes. A partir da história de uma mulher a quem veio a ser confiado o desenho de fronteiras por aqueles que para tal confiaram nela.
A fotografia de Peter Zeitlinger, que não esqueceu o precedente histórico de David Lean (1962), é excelente, a música de Klaus Badelt muito apropriada e a montagem de Joe Bini justa e precisa, o que com a realização torna este "Rainha do Deserto" um filme muito bom mesmo se de certa maneira insólito na obra de quem realizou "Aguirre, a cólera de Deus"/"Aguirre, der Zorn Gottes" (1972)" e "Fitzcarraldo" (1982) e recentemente se tem dedicado sobretudo ao documentário (sobre Werner Herzog ver "Para doer", de 20 de Abril de 2013).
Sem comentários:
Enviar um comentário