O mais recente filme de Mia Hansen-Love, "O Que Está por Vir"/"L'Avenir" (2016), confirma-a plena e definitivamente como a grande cineasta que os seus filmes anteriores anunciavam.
A partir de novo de um argumento seu, o filme acompanha uma mulher, Nathalie Chazeaux/Isabelle Huppert, professora de filosofia, casada com Heinz/André Marcon, com dois filhos e uma mãe, Yvette/Edith Scob, e um antigo aluno preferido, Fabien/Roman Kolinka. Ela tem problemas com os alunos, com a sua editora, com o marido de quem se divorcia, com os filhos que partem, com a mãe (grande Edith Scob) que acaba por morrer, com Fabien, com a gata, o que significa que a sua vida está recheada de problemas. Como a nossa.
Com uma Isabelle Huppert ao seu melhor nível e actores todos eles muito bons, Mia Hansen-Love constrói uma trama narrativa, visual e sonora muito boa, em que tudo está no seu sítio preciso e nada falha, entre Paris, a Bretanha e os Vosges. Reunindo três, no fim quatro gerações de uma família em volta de uma mulher que de súbito se descobre independente, "O Que Está por Vir" é um excelente filme no feminino sobre a vida. Isso mesmo: a vida, morte e nascimento incluídos.
Tem momentos em que me lembra Eric Rohmer mas tem sobretudo uma linha de rumo que o faz andar sempre em frente, imparável como a vida. E se Nathalie troca a gata que oferece pelo neto que recebe isso não nos deve fazer esquecer todo um percurso pela filosofia, a sua profissão, que passa pelos excertos lidos, pelos comentários, pelos livros mostrados, o que faz lembrar aquele cineasta de proa da nouvelle vague francesa de quem não preciso de vos dizer o nome.
A cineasta diz ter-se inspirado nos seus pais, professores de filosofia, e no seu convívio com colegas e alunos intelectuais de esquerda, o que passa muito bem nas personagens e nas discussões do seu filme e será responsável pelo tom político reflexivo que, quase em surdina, o atravessa.
Tudo sereno, como na vida moderna, com os sobressaltos e pressões a que todos estamos sujeitos. E tudo com uma realização precisa, seguríssima, de quem sabe exactamente o que quer e o que está a fazer e o plano final confirma (sobre Mia Hansen-Love, ver "Amanhã à mesma hora", de 29 de Agosto de 2013, e "O ritmo de tudo", de 9 de Maio de 2015).
Tudo sereno, como na vida moderna, com os sobressaltos e pressões a que todos estamos sujeitos. E tudo com uma realização precisa, seguríssima, de quem sabe exactamente o que quer e o que está a fazer e o plano final confirma (sobre Mia Hansen-Love, ver "Amanhã à mesma hora", de 29 de Agosto de 2013, e "O ritmo de tudo", de 9 de Maio de 2015).
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