"Romulus, My Father" é o único filme até agora realizado pelo actor australiano Richard Roxburgh (2007). Com argumento de Nick Drake e Raimond Gaita, vai recuperar a adolescência do segundo, no início dos anos 60, na Austrália, para onde os seus pais, uma alemã e um romeno, tinham emigrado quando ele tinha 4 anos. Vi o filme no Arte inteiramente por acaso e fiquei surpreendido e encantado pela sua sobriedade, a sua simplicidade e a sua argúcia.
Como será fácil compreender, não é especialmente difícil reconstituir uma povoação australiana do início dos anos 60, pelo que não é isso que surpreende neste filme. O que nele está primordialmente em causa e desperta especial atenção é a memória que se conserva dos primeiros anos de vida e das personagens que os habitaram, que no caso de Raimond foram personagens difíceis e com relações problemáticas: a mãe com uma segunda relação, de que acaba por nascer uma filha - uma mãe que se mata -, um segundo relacionamento dela que morre num acidente de viação e cujo irmão, amigo de Romulus, acaba por se matar também.
Ora aqui impressionam duas coisas. Primeiro, a solidão a que as personagens do pai e do filho são remetidas pelas vicissitudes da vida e dos seres à sua volta. Segundo, trata-se da história verídica da adolescência de quem recorda, Raimond, em cujas memórias o filme se baseia - e aqui é de notar que se acompanha permanentemente o ponto de vista deste quando adolescente. Um terceiro ponto chama em especial a atenção, que é o facto de Raimond Gaita ser um filósofo e professor de filosofia vivo e em actividade, para cuja existência, trabalho e obra somos despertados, mesmo convidados a conhecê-los.
Não lhe terá sido, pois, inútil a experiência dolorosa dos primeiros anos aqui recordados, e com ela terá do seu pai aprendido a importância da solidão numa idade em que ela é algo com que não é fácil conviver.
Não, não vou falar nos actores (Eric Bana, Franka Potente, Kodi Smit-McPhee, Marton Csokas, Russell Dykstra), que são muito bons, nem na fotografia, de Geoffrey Simpson, excelente em especial na deslumbrante paisagem australiana, nem na música, de Basil Hogios, com referências de época muito apropriadas a nível diegético (Jerrey Lee Lewis), nem na realização, sóbria e segura. Apenas retenho aqui o que, a dado momento, o pai Romulus diz ao filho Raimond: "Não serás reconhecido pelos filmes que tiveres visto mas pelo trabalho que fizeres. A dignidade está no trabalho."
Vou sim, como me compete, remeter-vos para o que sobre as primeiras experiências da vida, a solidão e outras questões escreveu Rainer Maria Rilke (1875-1926) em "Cartas a um Jovem Poeta". Passado um século, na sua aparente inactualidade é mais actual do que nunca para todos nós, e por isso aconselho que o leiam ou releiam, como comigo aconteceu agora. A Rilke eu volto sempre. Mas a partir de agora vou também procurar a obra de Raimond Gaita, que não conheço.
Não, não vou falar nos actores (Eric Bana, Franka Potente, Kodi Smit-McPhee, Marton Csokas, Russell Dykstra), que são muito bons, nem na fotografia, de Geoffrey Simpson, excelente em especial na deslumbrante paisagem australiana, nem na música, de Basil Hogios, com referências de época muito apropriadas a nível diegético (Jerrey Lee Lewis), nem na realização, sóbria e segura. Apenas retenho aqui o que, a dado momento, o pai Romulus diz ao filho Raimond: "Não serás reconhecido pelos filmes que tiveres visto mas pelo trabalho que fizeres. A dignidade está no trabalho."
Vou sim, como me compete, remeter-vos para o que sobre as primeiras experiências da vida, a solidão e outras questões escreveu Rainer Maria Rilke (1875-1926) em "Cartas a um Jovem Poeta". Passado um século, na sua aparente inactualidade é mais actual do que nunca para todos nós, e por isso aconselho que o leiam ou releiam, como comigo aconteceu agora. A Rilke eu volto sempre. Mas a partir de agora vou também procurar a obra de Raimond Gaita, que não conheço.
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