Depois de "A Pele Onde Eu Vivo"/"La piel que habito" (2011), um filme surpreendentemente fraco (ver "Decorativo", 21 de Outubro de 2012), chegou-nos agora o último filme do espanhol Pedro Almodóvar, "Os Amantes Passageiros"/"Los amantes pasajeros" (2013), que vem confirmar que o ex-menino bonito do cinema espanhol está num impasse criativo e por isso em queda.
Com uma fama de rebelde e iconoclasta justamente adquirida desde o início, durante os anos 80 do Século XX, Almodóvar moveu-se desde então entre a comédia excêntrica e o melodrama destemperado, em que nos deu o seu melhor:"Negros Hábitos"/"Entre tinieblas" (1983), "Que Fiz Eu Para Merecer Isto?"/"Qué he hecho yo para merecer ésto?" (1984), "Matador" (1986), "Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos"/"Mujeres al borde de un ataque de nervios" (1986), que lhe trouxe fama internacional, e filmes que posteriormente a confirmaram, como "A Flor do Meu Segredo"/"La flor de mi secreto" (1995), "Em Carne Viva"/"Carne trémula" (1997) e sobretudo "Tudo Sobre a Minha Mãe"/"Todo sobre mi madre" (1999). A primeira década do Século XXI ainda lhe correu bem, mas depois, e subitamente, mostrou estar a perder a força criativa e a inventiva que o caracterizavam, o que este seu mais recente filme confirma ao investir de novo a comédia mas sem frescura, de forma repetitiva e sem novidade, usando os lugares-comuns do seu próprio cinema como se a eles se sentisse obrigado.
Num avião às voltas enquanto espera autorização para uma aterragem de emergência, o cineasta nem sequer consegue remeter-se apenas a essa situação vista do interior, o que não surpreende por ele não ser um especialista de filmes de suspense, embora as saídas que dela faz sejam justificadas em termos de gestão do melodrama, que "Os Amantes Passageiros" também tem. Claro que ele sabe gerir a coincidência espacial de personagens diversificadas, sabe reuni-las a partir dos motivos pessoais de cada uma e dessa forma elaborar um retrato convincente de um grupo ocasional. Demasiado preso á orientação sexual de cada uma das personagens, o que lhe dá pretexto para algumas piadas de comédia de boulevard, nomeadamente com trocas de parceiro típicas e previsíveis para cumprir o programa, consegue mesmo assim utilizar o único telefone a bordo e a preparação do grande momento de todos os sexos, do sexo de todos e de todas, de maneira consistente e que permite vislumbrar o seu talento pessoal.
Mas toda a situaçãp de base é mal, insuficientemente aproveitada, mesmo as alusões à actualidade política espanhola são ligeiras e inofensivas, e a melhor ideia do filme, a da vidente que sente o cheiro da morte, é aproveitada de forma circunstancial e sem consequências. Salva-se a própria aterragem de emergência, bem filmada do único ponto de vista justo, o interior vazio do aeroporto, o que é francamente muito pouco para um cineasta tão prestigiado e que tanto prometeu.
Qualquer cineasta da América Latina de língua espanhola faz neste momento melhor do que Pedro Almodóvar, às voltas no vazio nos seus últimos dois filmes como o avião deste "Os Amantes Passageiros". Até ver, até se libertar dos meros tiques pessoais e voltar a inventar, a inventar-se, mesmo com Penélope Cruz e Antonio Banderas a darem uma ajuda o melhor do cinema actual deixou de passar por ele.
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