Era inevitável que Hollywood fizesse um filme sobre a caça e a morte de Osama bin Laden, o tristementre célebre líder da al-Qaeda. Os próprios acontecimentos, desde os ataques terroristas de 11 de Setembro de 2001 até esse momento de punição, funcionaram, eles próprios, como um filme, pelo que fazer o filme era trabalhar sobre um déjà-vu em termos mediáticos.
Assim, o filme de Kathryn Bigelow "00:30 A Hora Negra"/"Zero Dark Thirty" (2012), embora obrigatório torna-se inteiramente previsível. Filmado por uma cineasta com provas dadas, nomeadamente o galardoado "Estado de Guerra"/"The Hurt Locker" (2008), repete um percurso balizado por acontecimentos que todos conhecemos, recordando e recriando em filme episódios crus do conhecimento público que como tal interessaram e ao cinema interessa reter para a história no "filme oficial".
A invenção deste filme reside na colocação como protagonista de uma agente dos serviços secretos americanos, Maya, interpretada por uma Jessica Chastain sempre mais do que simplesmente correcta, mas ele fica na história por ter sido um dos últimos filmes em que, já notoriamente muito gordo, participou James Gandolfini (ver "Poética dos Actores", 22 de Junho de 2013), que interpreta o Director da C.I.A. em duas breves aparições. De resto, a competência e superioridade dos S.E.A.L. é demonstrada sem qualquer sombra de dúvida num filme que preenche cabalmente as funções de propaganda que o motivaram.
Agora o filme que a realidade faz continua, aí como em muitos outros campos, e estranho muito que onde ele mais incomoda na actualidade, a recessão provocada pela crise resultante do mais recente crash bolsista, ainda não tenha merecido ao cinema americano a atenção que lhe mereceram, nos anos 30 do Século XX, a Grande Depressão e o New Deal. Além disso, partilho as apreensões sobre o não encerramento da prisão de Guantanamo Bay e pelo grave prolongamento de um estado de excepção absolutamente indesejável - só quando ele acabar esta guerra poderá ser dada como ganha.
Lamentáveis embora as circunstâncias que desde o início o motivaram, com a competência de Kathy Bigelow e de toda a equipa "00:30 A Hora Negra" cumpre com eficácia os objectivos visados. Colocam-se agora, como frequentemente acontece no cinema e o próprio cinema americano parece expressamente procurar, questões relativas à veracidade deste relato fílmico. Mas atenção aos outros pontos em que a realidade preocupantemente faz cinema, faz filme neste momento.
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