"Um Planeta Solitário"/"The Loneliest Planet" é o terceiro filme da russo-americana Julia Loktev (2011), centrado em três personagens, um par de namorados, Alex/Gael Garcia Bernal e Nica/Hani Furstenberg, e o guia Dato/Bidzina Gujabidze que os conduz numa excursão através das montanhas da Geórgia. Objecto dir-se-ia apátrida e sem destino definido, o filme apresenta uma narrativa minimalista, no limiar da deriva e do tédio, até ao momento em que Alex e Nica apanham um valente susto.
A partir de então a câmara afasta-se imediatamente, os planos tornam-se mais longos e os percursos abstractos, assinalando uma nova gravidade, até ao momento em que, depois de ela ter caído na água dum ribeiro, enquanto Alex dorme Nica trava com Dato um diálogo a sós em que ele lhe conta a sua vida passada e lhe diz que ali, nas imensas montanhas, encontra a verdadeira vida e a realidade, após o que a beija.
O argumento da autoria da cineasta, baseado num conto de Tom Bissell e incluindo um excerto de "Um Herói do Nosso Tempo", de Mikhail Lermontov, trabalha a incerteza que para o par reveste, sobretudo a partir de certo momento, a sua caminhada, até desembocar na história de um homem que foi casado como eles se aprestam para ser, que introduz uma circularidade muito especial. Toda a arte do filme e da sua autora reside no tratamento do espaço e do tempo, com actores a simplesmente animarem as suas personagens.
Mas de tal maneira os acontecimentos surgem escalonados e articulados no tempo e no espaço que percebemos que aquelas duas personagens, que se limitam a tentar passar o seu tempo de maneira agradável na natureza (e aqui a pista ecológica é uma falsa pista), aí vão encontrar o susto e uma delas uma verdade inesperada que a desperta.
Inconclusivo no seu final definido, "Um Planeta Solitário" é um filme que cumpre de forma exemplar o seu projecto narrativo, espacial e temporal, a que, na sua desarmante arte da espera, é preciso estar atento. Sempre gostei de percursos que aparentemente não conduzem a lado nenhum, no fim dos quais, enquanto os outros dormem, acabamos por descobrir o que não esperávamos nem desejávamos.
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