“Um não sei quê, que nasce não sei onde,/Vem não sei como, e dói não sei porquê.” Luís de Camões

"Na dor lida sentem bem,/Não as duas que êle teve,/Mas só a que êles não têm." Fernando Pessoa

"Lividos astros,/Soidões lacustres.../Lemes e mastros.../E os alabastros/Dos balaustres!" Camilo Pessanha

"E eu estou feliz ainda./Mas faz-se tarde/e sei que é tempo de continuar." Helder Macedo

"Conchas, pedrinhas, pedacinhos de ossos..." Camilo Pessanha

“Vem, vagamente,/Vem, levemente,/Vem sozinha, solene, com as mãos caídas/Ao teu lado, vem” Álvaro de Campos

"Chove nela graça tanta/que dá graça à fermosura;/vai fermosa, e não segura." Luís de Camões

domingo, 7 de setembro de 2014

Como um sonho

     "Spring Breakers: Viagem de Finalistas"/"Spring Breakers" (2012) confirma Harmony Korine como um novo nome muito prometedor no cinema americano. Com inteligência, o cineasta, também argumentista, constrói um filme invulgar e cativante, desenvolto e muito bom.
                     Spring Breakers
     A viagem de finalistas que dá o título português ao filme é construída não só como a concretização de um sonho das protagonistas mas também como uma realidade que elas, com sucessivas defecções, vivem como um sonho. Assim a personagem de Alien/James Franco surge como uma peça central desse sonho a partir do momento em que elas são presas.
    Na viagem inabitual a um outro lado da América - o de "Scarface - A Força do Poder"/"Scarface", de Brian de Palma (1983), com Al Pacino -, cada uma delas sente a atracção por esse mundo mas cada uma delas, em momentos diferentes, acaba por dele sair - aliás, as duas últimas deixando atrás de si uma razia que só como sonho se compreende. Mas o próprio recurso inteligente à câmara lenta (retardador), assim como a música, muito bem escolhida e muito bem utilizada numa verdadeira montagem audiovisual, empurram o filme para um registo onírico que lhe quadra muito bem. 
                      
     Dessa maneira a viagem das protagonistas torna-se uma verdadeira "viagem iniciática", atraente e violenta, que se compreende e lhes fica bem com viagem de regresso, que encerra o sonho. Mas há alguma coisa no trabalho de Harmny Korine que faz com que neste filme tudo, cada personagem e situação, acabe por ocupar, sem forçar, o seu lugar próprio na narrativa visual e sonora transposta como sonho.
      Depois de ver "Spring Breakers: Viagem de Finalistas" percebo melhor o bom acolhimento que o cineasta tem tido junto da crítica internacional e numa distribuição comercial que deve continuar a chegar a Portugal.

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