"Villa Amalia" é um filme de Benoît Jacquot (2008) baseado no romance homónimo de Pascal Quignard que, lamentavelmente, falha a adaptação, falha o livro e falha o filme. Tratando-se de um cineasta de referência da sua geração no cinema francês (ver "Os esquecidos", de 7 de Abril de 2013) e de um escritor e pensador de referência das letras francesas, seria de esperar que o filme pelo menos mantivesse o tom acre e violento da protagonista, Ann/Isabelle Huppert, o que de maneira nenhuma acontece.
Visto esta semana no Arte, o filme revela um retraímento perante o material literário e narrativo de origem que como mero apontamento superficial o desfigura. O cinema, e em especial o cinema francês, tem destas infantilidades banais de transposição cinematográfica correcta e até chique que não adiantam nada em relação à literatura e se limitam a uma leitura superficial e bem comportada.
Dir-me-ão que acontece a todos os cineastas em todas as cinematografias, e poderá ser verdade, mas não era de maneira nenhuma de acontecer a este escritor às mãos deste cineasta. Enchendo desnecessariamente a primeira parte, Benoît Jacquot desperdiça inteiramente a sua segunda parte, fundamental para a compreensão do acesso da protagonista à sua própria verdade como mulher e como pianista, inextricáveis, o que passa pelo desaproveitamento de Isabelle Huppert, que como pianista foi muito mais longe em "A Pianista"/"La pianiste", de Michael Haneke (2001).
Prova de que, mesmo nas mãos de um cineasta cotado e com actores de primeira, o cinema pode ser uma simplificação e um empobrecimento da literatura às mãos de quem menos se esperaria. E por "Villa Amalia" compreendo o esquecimento em que, até tempos recentes, Benoît Jacquot caiu.
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