Depois de um filme muito bom, "Blue Jasmine", 2013 (ver Blue Moon", de 21 de Setembro de 2013), Woody Allen precipitou-se no seu filme seguinte, "Magia ao Luar"/"Magic in the Moonlight", 2014, em que, depois de "Meia-Noite em Paris"/"Midnight in Paris", 2011 (ver "Um americano em Paris", de 12 de Agosto de 2012), volta aos anos 20, desta vez a partir de Berlim 1928 e centrando-se no Sul de França, na Côte d'Azur e na Provença. Longe de ser um filme menor, apesar da sua construção lenta, da abundância de diálogos e do tom misto de comédia romântica, é um filme abismado no desencontro e na beleza.
Como pretexto narrativo minimal e esotérico, um mestre ilusionista, Stanley/Colin Firth, é desafiado a desmascarar uma jovem mulher, Sophie/Emma Stone, que se apresenta como espírita e medium junto de uma família abastada da Côte d'Azur. Ora sem fazer a defesa de tal prática, o filme acaba por confrontar o racionalista e snob Stanley com o facto de irracionalmente, depois de a ter desmascarado se apaixonar por Sophie.
"Magia ao Luar" tem momentos muito bons, como o da avaria do carro e da trovoada, que culmina no observatório astronómico, aquele em que, com a tia Vanessa/Eileen Atkins na sala de operações depois de um acidente, Stanley dá por si a rezar por ela, ou a conversa dele com a tia no final, e Woody Allen volta a dar muito boa conta de si mesmo sem aparecer como actor, tornando o seu filme uma bela peça de ironia e de defesa mas também de crítica do espírito racional.
Colin Firth está muito bem na interpretação de uma personagem autosuficiente e segura de si até ao excesso, algures num meio caminho entre Cary Grant e Rex Harrison, e Emma Stone muito feliz como pequena americana do Minnesota, à cabeça de um elenco inesperado mas muito bom, como é uso do cineasta. E fiquei desta vez agradavelmente surpreendido pela variedade de escolhas musicais numa banda sonora muito boa e muito bem utilizada.
Com o seu ar despretensioso de quem se sente obrigado a continuar a fazer pelo menos um filme por ano, "Magia ao Luar" é um bom filme que não desmerece na obra do cineasta, em que faz inteiramente sentido. E o seu deslubramento pela beleza, juntamente com a subtileza da narrativa e o brio das interpretações, faz o encanto de um filme que não deve ser minimizado.
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