O mais recente filme de David Cronenberg, "Mapas Para as Estrelas"/"Maps to the Stars" (2014), com argumento de Bruce Wagner, é um filme magnífico sobre Hollywood e o cinema, ao nível do que anterioremnte fizeram, depois de Billy Wilder ("O Crepúsculo dos Deuses"/"Sunset Boulevard", 1950), Robert Altman ("O Jogador"/"The Player", 1992) e David Lynch ("Mulholland Drive", 2001).
Sem nostalgia nem fantasmas do passado, o grande cineasta canadiano enfrenta os tabus por trás do sistema que falam dele e por ele, com o incesto como ponto de partida e de chegada, para nos dar um retrato impiedoso da "fábrica dos sonhos" à altura do que ela merece para ser compreendida. Das "crianças prodígio" às grandes estrelas em segunda geração nada é poupado, e o que é mais curioso é que o ponto de partida para os irmãos Benjie/Evan Bird e Agatha Weiss/Mia Wasikowska é um poema outrora célebre do francês Paul Éluard sobre a liberdade e o seu nome.
Compreendo a prudência da profissão cinematográfica, dos festivais internacionais de cinema à crítica mais abalizada, perante tal objecto estranho proveniente de um cineasta que tinha já dado largas ao seu espírito crítico em "Cosmopolis" (ver «"Cosmopolis" e o céu de perugia», de 10 de Junho de 2012). E aqui de novo ele não poupa em glamour e atractivos sexuais para, no percurso e na chegada, deixar expresso na narrativa fílmica um pensamento crítico original sobre o cinema e aqueles que em Hollywood o fazem.
Tudo humano, demasiado humano entre Havana Segrand/Julianne Moore e a mãe, que ela quer representar num filme, entre ela e a filha, cuja memória a não abandona. Tudo humano, demasiado humano, entre Benjie e Agatha e os seus pais, Stafford/John Cusack e Christina Weiss/Olivia Williams, entre Agatha e o irmão, entre ela e Havana, entre ela e o motorista Jerome Fontana/Robert Pattinson. Mas o humano extravasa do comum até o ponto de fuga não poder, entre pais e filhos como entre irmãos, deixar de ser a morte.
Sem constrangimentos de qualquer espécie, jogando com os lugares-comuns do cinema e do mundo do espectáculo mesmo na cumplicidade rival que os une, David Cronenberg não poupa nem o sistema nem as suas diversas peças. E o libelo é implacável, para quem o quiser ver descomprometidamente. Haverá quem pense em exagero, em má-vontade, mas não se pode ignorar o escalpelizar detido da sociedade do espectáculo em que a própria América se transformou.
Sem ignorar os outros, em especial os mais novos, manifesto especial apreço por Julianne Moore e John Cusack, dois grandes actores em entrega completa a papéis ingratos de que dão conta com grande desembaraço e enorme talento. De resto é a equipa do costume, com Peter Suschitzky na direcção da fotografia, Howard Shore na música discreta, Ronald Sanders na montagem e a fiel Denise Cronenberg no guarda-roupa.
Este é sem dúvida um dos melhores filmes do ano e o resto é conversa fiada. O fogo e a água. Sobretudo depois da sua fase de cinema fantástico, David Cronenberg é um dos maiores cineastas contemporâneos. E aqui nem a "atracção do abismo", com a psicanálise à mistura, vos vale (sobre o cineasta ver também "Uma tragédia clássica", de 28 de Janeiro de 2012, e "Os sótãos da memória", de 4 de Março de 2012).
Tudo humano, demasiado humano entre Havana Segrand/Julianne Moore e a mãe, que ela quer representar num filme, entre ela e a filha, cuja memória a não abandona. Tudo humano, demasiado humano, entre Benjie e Agatha e os seus pais, Stafford/John Cusack e Christina Weiss/Olivia Williams, entre Agatha e o irmão, entre ela e Havana, entre ela e o motorista Jerome Fontana/Robert Pattinson. Mas o humano extravasa do comum até o ponto de fuga não poder, entre pais e filhos como entre irmãos, deixar de ser a morte.
Sem constrangimentos de qualquer espécie, jogando com os lugares-comuns do cinema e do mundo do espectáculo mesmo na cumplicidade rival que os une, David Cronenberg não poupa nem o sistema nem as suas diversas peças. E o libelo é implacável, para quem o quiser ver descomprometidamente. Haverá quem pense em exagero, em má-vontade, mas não se pode ignorar o escalpelizar detido da sociedade do espectáculo em que a própria América se transformou.
Sem ignorar os outros, em especial os mais novos, manifesto especial apreço por Julianne Moore e John Cusack, dois grandes actores em entrega completa a papéis ingratos de que dão conta com grande desembaraço e enorme talento. De resto é a equipa do costume, com Peter Suschitzky na direcção da fotografia, Howard Shore na música discreta, Ronald Sanders na montagem e a fiel Denise Cronenberg no guarda-roupa.
Este é sem dúvida um dos melhores filmes do ano e o resto é conversa fiada. O fogo e a água. Sobretudo depois da sua fase de cinema fantástico, David Cronenberg é um dos maiores cineastas contemporâneos. E aqui nem a "atracção do abismo", com a psicanálise à mistura, vos vale (sobre o cineasta ver também "Uma tragédia clássica", de 28 de Janeiro de 2012, e "Os sótãos da memória", de 4 de Março de 2012).
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