Zhang Yimou é neste momento o mais famoso cineasta chinês, sobretudo desde que foi responsável pela encenação das cerimónias de abertura e encerramento dos Jogos Olímpicos de Pequim de 2008. Membro da "quinta geração" do cinema chinês, a sua obra desde "Milho Vermelho"/"Red Sorghum"/"Hons gao liang" (1987), o seu filme de estreia, tem-se enriquecido e diversificado de forma a levá-lo a ocupar o lugar de destaque que justamente ocupa e "Regresso a Casa"/"Coming Home"/"Gui lai" (2014) agora vem confirmar.
A partir de um romance de Yan Geling, que não conheço mas em que deverá residir o seu mérito principal, com a participação de grandes actores como Gong Li (a sua actriz-fétiche e a mais internacional do cinema chinês), Chen Daoming, Zhang Huiwen, o cineasta constrói um filme passado na sua maior parte nos anos subsequentes ao final da Revolução Cultural, depois de um prólogo muito importante passado ainda durante ela, em que as relações entre o casal separado Yu e Lu e a sua filha Dan Dan são lançadas.
Ora a arte de Zhang Yimou reside em só progressiva e tardiamente ir desvendando pontos nodais daquela relação, em que, depois do regresso de Lu, Yu deixa de o reconhecer tomando-o por outro, do que também só muito tardiamente ficamos a saber as razões. E depois do falhanço das fotografias e do piano em fazê-la recuperar a memória extraviada, o dispositivo das cartas nunca enviadas está muito justamente utilizado, com todo o seu peso simultaneamente dramático e crítico.
Há em "Regresso a Casa" a preocupação de cumprir com rigor um programa narrativo, o que é feito com sabedoria e pudor por um cineasta absolutamente senhor dos meios do cinema e dos recursos do melodrama. Implícita e explícita, a crítica do maoismo não pode ser minimizada na sua clareza e contundência, embora não deva fazer esquecer o conformismo cinematográfico e estético do todo.
Ao reconhecer em Zhang Yimou o mais famoso cineasta chinês da actualidade não estou, contudo, a implicar que ele seja o melhor, mas que entre os melhores ele é o mais reconhecido - e, possivelmente, também o mais académico -, do mesmo passo que reconheço que a parte que nos chega do actual cinema do seu país continua a ser exígua.
Ao reconhecer em Zhang Yimou o mais famoso cineasta chinês da actualidade não estou, contudo, a implicar que ele seja o melhor, mas que entre os melhores ele é o mais reconhecido - e, possivelmente, também o mais académico -, do mesmo passo que reconheço que a parte que nos chega do actual cinema do seu país continua a ser exígua.
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