“Um não sei quê, que nasce não sei onde,/Vem não sei como, e dói não sei porquê.” Luís de Camões

"Na dor lida sentem bem,/Não as duas que êle teve,/Mas só a que êles não têm." Fernando Pessoa

"Lividos astros,/Soidões lacustres.../Lemes e mastros.../E os alabastros/Dos balaustres!" Camilo Pessanha

"E eu estou feliz ainda./Mas faz-se tarde/e sei que é tempo de continuar." Helder Macedo

"Conchas, pedrinhas, pedacinhos de ossos..." Camilo Pessanha

“Vem, vagamente,/Vem, levemente,/Vem sozinha, solene, com as mãos caídas/Ao teu lado, vem” Álvaro de Campos

"Chove nela graça tanta/que dá graça à fermosura;/vai fermosa, e não segura." Luís de Camões

domingo, 23 de agosto de 2015

Mais vale tarde...

    Saiu há pouco "Os Filmes da Minha Vida", de François Truffaut (Lisboa: Orfeu Negro, 2015), que é um livro muito bom sobre cinema pois recolhe os artigos publicados pelo seu autor entre 1955 e 1974 (a data da edição original francesa é 1975, o que é mportante referir pois significa que foi organizado ainda por Truffaut, que morreu em 1984).
    Além de ter sido um dos nomes fundadores da nouvelle vague francesa, François Truffaut foi também, e antes de o ser, um apaixonado crítico de cinema com um gosto selectivo e muito apurado, o que este livro agora editado em português permite apreciar.
    Será especialmente estimulante tomar contacto com o pensamento vivaz sobre o cinema de alguém que conhecia bem a sua história, e outras histórias, e se exprimia de forma sincera e aberta, sem constrangimentos e com ideias claras. Ler o que ele escreveu sobre Jean Vigo, Jean Renoir, Carl Dreyer, Ernst Lubitsch, Chaplin, John Ford, Fritz Lang, Frank Capra, Howard Hawks, Sternberg ou Hitchcock; sobre Robert Aldrich, Sam Fuller, Kazan, Kubrick, Charles Laughton, Joseph Mankiewicz, Anthony Mann, Otto Preminger, Nicholas Ray, Douglas  Sirk, Edgar Ulmer ou Billy Wilder; sobre Jacques Becker, Robert Bresson, Clouzot, Cocteau, Max Ophuls, Jacques Tati, Bergman, Buñuel, Norman MacLaren, Fellini, Rossellini, Orson Welles, Humphrey Bogart ou James Dean; sobre Alain Resnais, Alexandre Astruc, Agnès Varda, Roger Vadim, Chabrol, Malle, Godard, Rivette, Jacques Rozier, Claude Berri, Gérard Blain, Sautet, Doillon ou André Bazin (que serviu de prefácio a uma recolha póstuma de textos seus, "Le cinéma de la cruauté" - Paris: Flammarion, 1987) é ainda hoje uma perfeita maravilha e uma excepcional lição de cinema, parte de um segredo  esquecido que seria muito bom que, mesmo se parcialmente, fosse passado aos mais novos.
     Para poder apreciar na sua totalidade o contributo de François Truffaut para o cinema foi muito importante a exposição que esteve na Cinemateca Francesa de 8 de Outubro de 2014 a 25 de Janeiro de 2015, que deu origem a um importante catálogo sob a direcção de Serge Toubiana (Paris: Flammarion/La Cinémathèque française, 2014). E se vos digo para lerem este livro do cineasta é sempre sem prejuízo de verem os filmes dos cineastas sobre os quais ele aí escreve, que devem ver, e também os filmes dele próprio, que devem evidentemente não se esquecer de ver também.
                                       livro                                
     Enquanto felicito novamente a editora por mais este excelente livro, permito-me complementar as escolhas de Truffaut para os seus artigos publicando abaixo uma lista dos 100 melhores filmes de sempre que elaborei para o centenário do cinema (sobre os 10 primeiros filmes desta lista ver "Aos meus amores", de 11 de Julho de 2012), que permanece inédita.
1. Aurora ("Sunrise: A Song of Two Humans"), de Friedrich W. Murnau (1927);
2. A Regra do Jogo ("La règle du jeu"), de Jean Renoir (1939); 
3. A Mulher Que Viveu Duas Vezes ("Vertigo"), de Alfred Hitchcock (1958); 
4. O Mundo a Seus Pés ("Citizen Kane"), de Orson Welles (1941);
5. Gertrud ("Gertrud"), de Carl Th. Dreyer (1964);
6. O Atalante ("L'Atalante"), de Jean Vigo (1934);
7. Os Contos da Lua Vaga ("Ugetsu Monogatari"), de Kenji Mizoguchi (1953);
8. A Terra ("Zemlia"), de Alexandr Dovjenko (1930);
9. Aves de Rapina ("Greed"), de Eric von Stroheim (1923-1925);
10. Libertação ("Paisà"), de Roberto Rossellini (1946);
11. A Desaparecida ("The Searchers"), de John Ford (1956);
12. Intolerância ("Intolerance"), de David W. Griffith (1916);
13. O Anjo Exterminador ("El angel exterminador"), de Luis Buñuel (1962);
14. Os Pássaros ("The Birds"), de Alfred Hitchcock (1963);
15. Viagem a Tóquio ("Tokio Monogatari"), de Yasujirô Ozu (1953);
16. Nosferatu, O Vampiro ("Nosferatu, eine Symphonie des Grauens"), de Friedrich W.
Murnau (1922);
17. Roma, Cidade Aberta ("Roma città aperta"), de Roberto Rossellini (1945);
18. The Saga of Anatahan, de Joseph von Sternberg (1953);
19. O Couraçado Potemkin ("Brenenósets Potiomkine"), de Sergei M. Eisenstein (1925);
20. Matou ("M"), de Fritz Lang (1931);
21. La ronde, de Max Ophuls (1950);
22. Ladrões de Bicicletas ("Ladri di biciclette"), de Vittorio De Sica (1948);
23. A Paixão de Joana d'Arc ("La passion de Jeanne d'Arc"), de Carl Th. Dreyer (1928);
24. Tabu ("Tabu: A Story of the South Seas"), de Friedrich W. Murnau (e Robert Flaherty) (1931);
25. Este Obscuro Objecto do Desejo ("Cet obscur objet du desir"), de Luis Buñuel (1977);
26. O Nascimento de uma Nação ("The Birth of a Nation"), de David W. Griffith (1915);
27. Metropolis ("Metropolis"), de Fritz Lang (1927);
28. O Quarto Mandamento ("The Magnificent Ambersons"), de Orson Welles (1942);
29. A Comédia e a Vida ("Le carrosse d'or"), de Jean Renoir (1952);
30. A Linha Geral ("Gueneralnaia Linia"), de Sergei M. Eisenstein (1926-1929);
31. A Palavra ("Ordet"), de Carl Th. Dreyer (1955);
32. O Intendente Sansho ("Sansho Dayu"), de Kenji Mizoguchi (1954);
33. O Último Ano em Marienbad ("L'année dernière à Marienbad"), de Alain Resnais (1961);
34. O Mundo de Apu ("Apur Sansar"), de Satyajit Ray (1959);
35. O Homem da Câmara de Filmar ("Tchelovek s Kinoapparatom"), de Dziga Vertov (1929);
36. Viagem a Itália ("Viaggio in Italia"), de Roberto Rossellini (1954);
37. Sentimento ("Senso"), de Luchino Visconti (1954);
38. A Máscara ("Persona"), de Ingmar Bergman (1966);
39. Sherlock Holmes Jr. ("Sherlock Junior"), de Buster Keaton (1924);
40. O Carteirista ("Pickpocket"), de Robert Bresson (1959);
41. Paraíso Infernal ("Only Angels Have Wings"), de Howard Hawks (1939);
42. As Duas Tormentas ("Way down East"), de David W: Griffith (1920);
43. Zvenigora ("Zvenigora"), de Alexandr Dovjenko (1928);
44. A Estrela Escondida ("Meghe Dhaka Tara"), de Ritwik Ghatak (1960);
45. A Casa e o Mundo ("Ghare Baire"), de Satyajit Ray (1984);
46. O Vento ("The Wind"), de Victor Sjöström (1928);
47. Alexandre Nevsky ("Alexandr Nevskii"), de Sergei M. Eisenstein (1938);
48. Duelo ao Sol ("Duel in the Sun"), de King Vidor (1946);
49. Johnny Guitar ("Johnny Guitar"), de Nicholas Ray (1954);
50. Serenata à Chuva ("Singin' in the Rain"), de Stanley Donen e Gene Kelly (1952);
                      
51. Pamplinas Maquinista ("The General"), de Buster Keaton (1926);
52. 2001: Odisseia no Espaço ("2001: A Space Odissey"), de Stanley Kubrick (1968);
53. Opinião Pública ("A Woman of Paris"), de Charles Chaplin (1923);
54. Aquela Loira ("Casque d'or"), de Jacques Becker (1952);
55. Ser ou Não Ser ("To Be or Not To Be"), de Ernst Lubitsch (1942);
56. A Paixão dos Fortes ("My darling Clementine"), de John Ford (1946);
57. Nanuk, o Esquimó ("Nanook of the North"), de Robert Flaherty (1922);
58. Morangos Silvestres ("Smulstronstallet"), de Ingmar Bergman (1957);
59. A Passageira ("Pasazerka"), de Andrzej Munk (1963);
60. Scarface, o Homem da Cicatriz ("Scarface, Shame of the Nation"), de Howard Hawks (1932);
61. Peregrinação Exemplar ("Au hasard Balthazar"), de Robert Bresson  (1966);
62. A Marca do Fogo ("The Cheat"), de Cecil B. De Mille (1915);
63. O Ditador ("The Great Dictator"), de Charles Chaplin (1940);
64. Os Amantes Crucificados ("Chikamatsu Monogatari"), de Kenji Mizoguchi (1954);
65. Corrupção ("The Big Heat"), de Fritz Lang (1953);
66. Lola ("Lola"), de Jacques Demy (1961);
67. Muriel ("Muriel ou Le temps d'un retour"), de Alain Resnais (1963);
68. Deus Sabe Quanto Amei ("Some Came Running"), de Vincente Minnelli (1958);
69. Vida Moderna ("Playtime"), de Jacques Tati (1967);
70. O Quarto Verde ("La chambre verte"), de François Truffaut (1978);
71. América, América ("America, America"), de Elia Kazan (1963);
72. Francisca, de Manoel de Oliveira (1981);
73. Ivan o Terrível ("Ivan Grosny"), de Sergei M. Eisenstein (1944-1946);
74. Nuvens Flutuantes ("Ukigumo"), de Mikio Naruse (1955);
75. Amarcord ("Amarcord"), de Federico Fellini (1973);
76. A Multidão ("The Crowd"), de King Vidor (1928);
77. O Homem do Oeste ("Man of the West"), de Anthony Mann (1958);
78. A Vítima do Medo ("Peeping Tom"), de Michael Powell (1960);
79. O Crepúsculo dos Deuses ("Sunset Boulevard"), de Billy Wilder (1950);
80. Laura ("Laura"), de Otto Preminger (1944);
81. Relíquia Macabra ("The Maltese Falcon"), de John Huston (1941);
82. A Condessa Descalça ("The Barefoot Countess"), de Joseph L. Mankiewicz (1954);
83. O Tesouro de Arne ("Herr Arnes Pengar"), de Mauritz Stiller (1919);
84. Rio Bravo ("Rio Bravo"), de Howard Hawks (1959);
85. Sete Mulheres ("Seven Women"), de John Ford (1966);
86. Intriga Internacional ("North by Northwest"), de Alfred Hitchcock (1959);
87. O Carro Fantasma ("Körkarlen"), de Victor Sjöström (1921);
88. A Hora Suprema ("The Seventh Heaven"), de Frank Borzage (1927);
89. O Último Refúgio ("High Sierra"), de Raoul Walsh (1941);
90. A Aventura ("L'Avventura"), de Michelangelo Antonioni (1960);
91. Andrei Rubliev ("Andrey Rublyov"), de Andrei Tarkovski (1966);
92. António das Mortes, de Glauber Rocha (1969); 
93. A Floresta Interdita ("Wind Across the Everglades"), de Nicholas Ray (1958);
94. A Noiva de Frankenstein ("The Bride of Frankenstein"), de James Whale (1935);
95. O Gosto do Saké ("Samma No Aji"), de Yasujirô Ozu (1962);
96. O Leopardo ("Il Gattopardo"), de Luchino Visconti (1963);
97. Le trou, de Jacques Becker (1960);
98. O Silêncio ("Tystnaden"), de Ingmar Bergman (1963);
99. O Desprezo ("Le mépris"), de Jean-Luc Godard (1963);
100. O Prazer ("Le Plaisir"), de Max Ophuls (1952). 
Além desta fiz na mesma ocasião mais duas listas de 100 melhores filmes a seguir a estes, em que surgem já cineastas mais recentes, a partir dos anos 70 e da Nova Hollywood, a que vos poupo porque significa um total de 300 filmes. E não tendo por agora tempo para actualizar uma escolha para os 120 anos do cinema, que seria certamente diferente desta como fiz aqui há poucos anos para os dez primeiros (ver "O melhor de sempre", de 31 de Dezembro de 2012), deixo-vos pelo menos mais alguns elementos de reflexão para a vossa abordagem do cinema.  

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