“Um não sei quê, que nasce não sei onde,/Vem não sei como, e dói não sei porquê.” Luís de Camões

"Na dor lida sentem bem,/Não as duas que êle teve,/Mas só a que êles não têm." Fernando Pessoa

"Lividos astros,/Soidões lacustres.../Lemes e mastros.../E os alabastros/Dos balaustres!" Camilo Pessanha

"E eu estou feliz ainda./Mas faz-se tarde/e sei que é tempo de continuar." Helder Macedo

"Conchas, pedrinhas, pedacinhos de ossos..." Camilo Pessanha

“Vem, vagamente,/Vem, levemente,/Vem sozinha, solene, com as mãos caídas/Ao teu lado, vem” Álvaro de Campos

"Chove nela graça tanta/que dá graça à fermosura;/vai fermosa, e não segura." Luís de Camões

sábado, 29 de agosto de 2015

Para o ano, à mesma hora

     Soube-se pelo jornal Público de hoje que o Cinema Ideal, em Lisboa, reaberto há um ano, poderá não cumprir um segundo ano de existência. O aviso soa, na voz de Pedro Borges, director da Midas Filmes, responsável pela sua programação, como um alarme.
    A mais antiga sala de cinema da capital foi integralmente recuperada com projecto do arquitecto José Neves, Prémio Secil de Arquitectura 2012, e tem apresentado desde a sua reabertura a melhor programação de cinema, português e internacional, a que pudemos assistir no último ano em condições incomparáveis. Com a sua história muito bem contada por Maria do Carmo Piçarra em "O Cinema Ideal e a Casa da Imprensa - 110 Anos de Filmes" (Lisboa: Guerra & Paz, 2014), é a única sala actualmente existente no centro da cidade, com acessos fantásticos num quadro urbano ele também histórico.
                    festa do cinema
    Não foi de maneira nenhuma indiferente o primeiro ano de existência do reaberto Cinema Ideal, com uma programação muito boa em exclusivo ou não, fazendo-nos lembrar que o cinema não é só o filme, que hoje podemos ver em qualquer outro local, ecrã ou suporte, mas as condições em que a ele assistimos, o que não é uma evidência para todos neste tempo de shoppings, internet e crescimento desmesurado dos subúrbios.   
   É absolutamente indispensável que todos nós frequentemos o Cinema Ideal sempre que possível e de preferência a outros espaços que eventualmente apresentem os mesmos filmes, tanto mais quanto aí passam pelo menos dois filmes diferentes (por vezes quatro ou cinco) por dia, sempre filmes de referência e em horários diversificados. E aproveitem a ida ao cinema para passear, ir a livrarias, cafés e restaurantes, lojas e outras salas de espectáculos que na zona abundam (mesmo ao lado a Fyodor Books, agora com cafetaria), porque a vida não é só cinema nem é um filme.
                    Cinema Ideal
     De todos nós - e também de todas as entidades a ele ligadas, que devem aqui como noutros sectores cumprir a sua função cultural - depende o futuro desta sala. Vamos, pois, todos ao Cinema Ideal, agora em especial na comemoração do seu 1º aniversário, a que me associo, e apoiemos pelo menos dessa maneira a continuação da sua existência como sala de referência. 

     Nota 
     Para o enquadramento e outros desenvolvimentos desta questão, que é muito importante, cf. "Os Cinemas de Lisboa - Um fenómeno urbano do século XX", de Margarida Acciaiuoli (Lisboa: Bizâncio, 2012).

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