"Dheepan", de Jaccques Audiard (2015), Palma de Ouro em Cannes, enfrenta com coragem e desassombro o problema das migrações para a Europa, que tão actual se tem revelado com os refugiados que a têm procurado sobretudo a partir do Médio Oriente e do Norte de África, mas fá-lo a partir de e com um caso menos falado pois os seus refugiados partem do Sri Lanka, onde o protagonista pertenceu aos Tigres Tamil.
Com uma família improvisada, composta por Yalini/Kalieaswari Srinivasan, a "mãe", Illayaal/Claudine Vinasithamby, a "filha", e o próprio Dheepan/Jesuthasan Antonythasan, o "pai", eles rumam a França (embora Yalini preferisse Inglaterra, onde tem uma prima), onde se arrumam num subúrbio de Paris, ele como guarda de um bloco de prédios, ela como empregada de um velho, o senhor Habib/Faouzi Bensaïdi, enquanto Illayaal vai à escola para alunos especiais.
Depois de nos dar a evolução da "família" nas suas relações internas, o filme detém-se na relação do "casal" e de Yalini com o filho do sr. Habib, Brahim/Vincent Rottiers, não sem que a memória da terra distante e do seu conflito deixe de se imiscuir.
Os conflitos envolvidos são primitivos, o que confere verdade ao filme, e no seu culminar Dheepan vê-se obrigado a fazer frente a tiro ao grupo de Brahim, embora quem estava por trás nessa circunstância viesse de longe. Tudo acaba bem, com os carros a circularem pela esquerda e um filho recém-nascido do agora casal.
Também co-argumentista e autor dos diálogos com Thomas Bidegain e Noé Debré, Jacques Audiard consegue aqui um bom filme que supera mesmo o seu melhor anterior, "Um Profeta"/"Un prophète" (2009), mostrando tudo o que vale e que se pode continuar a contar com o filho de Michel Audiard (1920-1985)
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