Chamei um destes dias de passagem "pirueta técnica" ao plano-sequência único em que é construído "A Arca Russa", de Alexander Sokurov, e devo aqui corrigir, pois trata-se de uma verdadeira "proeza técnica" com evidentes implicações fílmicas e estéticas. Ora a proeza de Sokurov, em interiores, é agora repetida pelo alemão Sebastian Schipper em "Victoria" (2015), um filme todo ele filmado em cenários reais e em exteriores num plano-sequência único e em tempo real.
Nas ruas de Berlim um grupo de quatro amigos encontra uma espanhola, uma madrilena, a personagem cujo nome dá o título ao filme e que é interpretada por Laia Costa. Um deles, Sonne/Frederick Lau, enamora-se dela, enquanto a outro, Boxer/Franz Rogowski, é encomendado um assalto a um banco para pagar protecção concedida na prisão. Victoria toma o lugar do condutor e depois não vos conto a história.
Todos eles são jovens e as personagens masculinas, berlinenses puros, conhecem-se entre si desde sempre, enquanto ela alinha porque lhe dizem ser um trabalho "sem problemas".
Todos eles são jovens e as personagens masculinas, berlinenses puros, conhecem-se entre si desde sempre, enquanto ela alinha porque lhe dizem ser um trabalho "sem problemas".
Com boa caracterização das personagens e excelentes interpretações, o filme, que conta com argumento do próprio realizador com Olivia Neergaard-Holm e Eike Frederik Schulz, fica nas mãos do director de fotografia Sturla Brandth Grovlen e do seu espantoso trabalho em plano-sequência único.
A outra grande diferença em relação ao filme de Sokurov é estarmos aqui perante um puro filme de ficção, um filme de acção em que as personagens se movem a grande velocidade, o que torna mais difícil segui-las num único plano sequência, embora a câmara de filmar esteja sempre no lugar certo, definindo o ponto de vista justo.
A outra grande diferença em relação ao filme de Sokurov é estarmos aqui perante um puro filme de ficção, um filme de acção em que as personagens se movem a grande velocidade, o que torna mais difícil segui-las num único plano sequência, embora a câmara de filmar esteja sempre no lugar certo, definindo o ponto de vista justo.
Há em todo este filme uma muito clara vontade de fazer bem e novo uma obra de género - trata-se de um típico filme negro -, que talvez sem a proeza técnica em causa não desse especialmente nas vistas. Filmado em continuidade entre a noite e a madrugada, "Victoria" de Sebastian Schipper apresenta-se como um filme notável pela sua ousadia e pelo seu acerto, embora a música de Nils Frahm seja por vezes um tanto redundante.
Pelo seu brio cinematográfico nada me espanta que tenha ganho a maioria dos prémios do cinema alemão. Este é um filme que aconselho sem reservas e que marca este Verão no circuito comercial português.
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