Dez anos depois de "A Costa dos Murmúrios", baseado em novela de Lídia Jorge (2004), Margarida Cardoso regressa a Moçambique para uma outra memória em "Yvone Kane" (2014) a partir de argumento original seu situado num país africano imaginário.
Rita/Beatriz Batarda procura descobrir o que aconteceu à personagem que dá título ao filme/Mina Andala, contando com a ajuda mas também o obstáculo da sua mãe, Sara/Irene Ravache. O filme anda em círculos sucessivos em volta do passado incógnito, com uma composição cinematográfica notável no presente que, apesar do escasso desenvolvimento narrativo, nos prende ao seu desenrolar.
Embora com uma saída, a circularidade de "Yvone Kane" aponta para o impasse da memória sem deixar de se encantar pela luz de Moçambique e as suas paisagens terrestres e marítimas a que muito pertinentemente prefere os interiores escuros, nocturnos e sem saída que não seja, para Rita, ir ao encontro das suas raízes africanas e das suas referências pessoais na sua busca da verdade.
Com a memória colonial em fundo mas substituída pela da guerra civil, Margarida Cardoso continua a ser uma grande cineasta, refinando mesmo aqui o seu trabalho visual e sonoro, com fotografia de João Ribeiro, e com os actores. Os espíritos dos mortos guardam o seu segredo, embora ele deva ser desvendado pelos vivos - no caso, o tráfico a que Yvone se dedicara graças à sua posição política adquirida na luta pela independência.
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