O mais recente e muito aguardado filme de Alexander Sokurov, "Francofonia" (2015), empreende sobre o Museu do Louvre, em Paris, um trabalho semelhante ao de "A Arca Russa"/"Russkyi kovcheg" (2002) sobre o Hermitage sem a pirueta técnica deste. O resultado não deixa de ser um novo filme excepcional deste grande cineasta russo.
![Alexander Sokourov in his new film asks how the Louvre in Paris survived the war](https://lh3.googleusercontent.com/blogger_img_proxy/AEn0k_uY7bED8TDGAkXJBBFOl07ufpVXN3Kuk3foxhEYWiOqBw4LnIBatpPeWj7M0rh6FGvdYhxxvnobzuK5wOly6Z_0X91Iz0Nzs3yo-7LboKrU5JbLWymywvEOEZm7gjLdDKL1qVb2d8WSSr3ksQ=s0-d)
Porém, em vez de se alargar sobre a história e antes de o fazer, o filme adopta um centro e ponto de partida situado na vida do museu durante a Ocupação do território francês e de Paris logo no início da II Guerra Mundial. Assim é trazido para lugar de destaque o confronto entre o então director do Louvre, Jacques Jaujard/Louis-Do de Lencquesaing, e Franz Wolff-Metternich/Benjamin Utzerath, o comandante nazi encarregado de lidar em nome do invasor com a cultura e a arte do território ocupado.
Com recurso a imagens de época, de arquivo, e a reconstituição, Alexander Sokurov consegue uma abordagem forte e original sobre a relação entre o poder ocupante e a arte, que não se dispensa de confrontar na história da França Marianne/Johanna Korthals Altes e Napoleão Bonaparte/Vincent Nemeth e vai ao ponto de ele próprio dialogar com as personagens do museu mas também com o comandante de um cargueiro que, no mar alto, transporta obras de arte.
![Aleksander Sokurov's 'Francofonia'](https://lh3.googleusercontent.com/blogger_img_proxy/AEn0k_u63LWGViJKn3Nq_X4I17ERW2g8YXT9DQdbL1su3KkwO_3sFIAHWUT2xQdUiU-_nUlwANa7laXBhoNouaLRXyWPQlRM6N525KRcsFASuGXLUMCGE9DpTbmaqc3CwLQBP8izLNtBpCy8xbI8cLznYG49tA=s0-d)
Este último dispositivo estabelece a justa distância no filme com tudo o mais que ele mostra, transmitindo com o navio ameaçado a ameaça actual da salvaguarda da arte. Com a excelente fotografia de Bruno Delbonnel (o mesmo de "Fausto", 2011), a apresentação dos espaços e de obras de referência do Louvre, como a da cidade de Paris ou a dos palácios em que as peças do museu, à excepção das esculturas, foram recolhidas durante a Ocupação, assume um brio especial.
A comparação com a situação da União Soviética e a do próprio Hermitage durante a II Guerra Mundial é inteiramente pertinente e justificada. Na sua abordagem pessoal e inteligente do museu e da arte, "Francofonia" confirma o seu autor como um dos mais importantes e originais cineastas contemporâneos (sobre Alexander Sokurov ver "Um grande artista", de 20 de Abril de 2013).
![Francofonia_4](https://lh3.googleusercontent.com/blogger_img_proxy/AEn0k_sT3kmM3-ECTq_jaUqXKcpjlBFZ_KU5PimngSIG4UzupA0P0YaX6dCYBL88JF2yQlQ1ju3REleQM0aBB1U_imSjKULTKebuh4csJH9Lxp9Ch2Y6gvW_7EPP0lTuwlSmpKlMGzd0ppwn502F1lhx=s0-d)
Aproveito para chamar a atenção de todos para a nova galeria de pintura e escultura portuguesa no 3º Piso do Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa, bem como para a exposição "Obras em Reserva - O museu que não se vê", também patente no MNAA até ao dia 25 de Setembro próximo.
Sobre a relação entre arte e poder aconselho o recente e muito bom "O Ruído do Tempo", de Julian Barnes (Lisboa: Quetzal, 2016).
Porém, em vez de se alargar sobre a história e antes de o fazer, o filme adopta um centro e ponto de partida situado na vida do museu durante a Ocupação do território francês e de Paris logo no início da II Guerra Mundial. Assim é trazido para lugar de destaque o confronto entre o então director do Louvre, Jacques Jaujard/Louis-Do de Lencquesaing, e Franz Wolff-Metternich/Benjamin Utzerath, o comandante nazi encarregado de lidar em nome do invasor com a cultura e a arte do território ocupado.
Com recurso a imagens de época, de arquivo, e a reconstituição, Alexander Sokurov consegue uma abordagem forte e original sobre a relação entre o poder ocupante e a arte, que não se dispensa de confrontar na história da França Marianne/Johanna Korthals Altes e Napoleão Bonaparte/Vincent Nemeth e vai ao ponto de ele próprio dialogar com as personagens do museu mas também com o comandante de um cargueiro que, no mar alto, transporta obras de arte.
Este último dispositivo estabelece a justa distância no filme com tudo o mais que ele mostra, transmitindo com o navio ameaçado a ameaça actual da salvaguarda da arte. Com a excelente fotografia de Bruno Delbonnel (o mesmo de "Fausto", 2011), a apresentação dos espaços e de obras de referência do Louvre, como a da cidade de Paris ou a dos palácios em que as peças do museu, à excepção das esculturas, foram recolhidas durante a Ocupação, assume um brio especial.
A comparação com a situação da União Soviética e a do próprio Hermitage durante a II Guerra Mundial é inteiramente pertinente e justificada. Na sua abordagem pessoal e inteligente do museu e da arte, "Francofonia" confirma o seu autor como um dos mais importantes e originais cineastas contemporâneos (sobre Alexander Sokurov ver "Um grande artista", de 20 de Abril de 2013).
Aproveito para chamar a atenção de todos para a nova galeria de pintura e escultura portuguesa no 3º Piso do Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa, bem como para a exposição "Obras em Reserva - O museu que não se vê", também patente no MNAA até ao dia 25 de Setembro próximo.
Sobre a relação entre arte e poder aconselho o recente e muito bom "O Ruído do Tempo", de Julian Barnes (Lisboa: Quetzal, 2016).
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