“Um não sei quê, que nasce não sei onde,/Vem não sei como, e dói não sei porquê.” Luís de Camões

"Na dor lida sentem bem,/Não as duas que êle teve,/Mas só a que êles não têm." Fernando Pessoa

"Lividos astros,/Soidões lacustres.../Lemes e mastros.../E os alabastros/Dos balaustres!" Camilo Pessanha

"E eu estou feliz ainda./Mas faz-se tarde/e sei que é tempo de continuar." Helder Macedo

"Conchas, pedrinhas, pedacinhos de ossos..." Camilo Pessanha

“Vem, vagamente,/Vem, levemente,/Vem sozinha, solene, com as mãos caídas/Ao teu lado, vem” Álvaro de Campos

"Chove nela graça tanta/que dá graça à fermosura;/vai fermosa, e não segura." Luís de Camões

sábado, 24 de março de 2012

As palavras do cinema


      É frequente vermos filmes que procedem à adaptação de obras literárias. Esse é um procedimento antigo no cinema, que tem dado bons e maus frutos mas é sintomático de uma relação viva entre duas formas de expressão diferentes. Também tem acontecido que a partir de filmes se publique o seu argumento, a sua planificação ou os seus diálogos. O que já é menos frequente é vermos textos de qualidade que deram origem a filmes de relevo serem publicados na sua forma primitiva, ainda para mais quando da autoria de quem os veio a passar para o cinema.
      Ora é este último o caso de "Seis Contos Morais", da autoria de Eric Rohmer, um dos homens que estiveram na origem da "nouvelle vague" francesa. Escritos, como o autor explica no preâmbulo, quando ainda não sabia que ia fazer cinema, e mesmo que só tenham vindo a assumir plena expressão nos filmes que dirigiu baseados neles, estes contos dão conta, de forma exemplar, da evolução do processo criativo no cinema, no caso o de um dos grandes cineastas do seu e do nosso tempo.
                             
      Publicados originalmente em 1974, já depois de concluída a série de filmes com o mesmo título que o autor dirigiu a partir deles, que constituiu o primeiro ciclo de filmes da sua obra - a que se seguiram "Comédias e Provérbios" e "Contos das Quatro Estações", para além de filmes não incluídos em qualquer dessas séries -, surgiram agora em tradução portuguesa, em edição da responsabilidade das Edições Cotovia, de Lisboa, com data de edição de 1999. Porque se trata de uma peça importante para a compreensão dos filmes neles baseados e para a compreensão do processo criativo de um dos nomes maiores do cinema contemporâneo, aqui fica a chamada de atenção e a sugestão de leitura para quem se interessa mesmo pelo cinema. É que o cinema também é para ser lido, como este caso evidencia, em especial quando escrito por um grande autor (não exagero minimamente o qualificativo, como saberá quem conhece a obra de Eric Rohmer) e quando devidamente traduzido, como neste caso acontece (tradução da responsabilidade de Maria Jorge Vilar de Figueiredo).

Fevereiro 2001                                    

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