A cor desliza sobre a forma que se indecide, de fronteiras esbatidas, desfocadas porém definidas como se impressionistas à partida, mas transmutadas pela cor, pelo contorno difuso que varre a superfície da tela, em latentes gritos expressionistas, que porém nos acolhem num conforto tranquilizante. O trabalho da inquietação é feito de forma a que se contenha em limites precisos, embora a desfocagem frequentemente aponte um excesso de visão que desse modo se afirma.
Ver o que se vê para além do que é visto, sugerir um mundo a partir da indefinição de formas indecisas ou então da definição de formas geométricas precisas, trabalhando a cor nas suas proximidades e nos seus contrastes mas como quem sobre o mundo desenvolve um discurso interior, feito de memórias, reminiscências, presenças e ausências que preenchem o vazio da tela. Superar o realismo e o abstraccionismo rumo a algo de que se desconhece o nome, numa interioridade que aponta ao infinito. A forma geométrica, embora necessária é, afinal, uma mera quimera.
Um mundo cujos contornos, na superfície liquefeita se tornam indefinidos, indecisos, aproximando-se do esboço do borrão para logo se recomporem em sugestão do que esteve na sua origem, do que está para além deles. O desfazer de contornos recompõe-nos ao repô-los nos seu justos, precisos termos. Sem jogar com o realismo e pressupondo a abstracção que não se limita a acolher em sugestões expressionistas e surrealistas, a ave que pousa na superfície do quadro levanta elegantemente voo como lágrima impertinente que, súbita, contradiz ou, indiscreta corrobora o sorriso e turva a visão de uma bela mulher.
Na emoção da cor em que a forma indefinidamente se define, recorta quadros dentro do quadro, desdobra-os, traça linhas divisórias, e a comoção regeneradora que desperta permite melhor olhar em volta e perceber a indefinição do concreto e definido na sua própria definição concreta, que convoca o passado, a solidão, a memória. O traço generoso, aberto mas contido, dominado na sua expressividade, acolhe a indecisão interior que melhor permite compreender, e somos a emoção que nos suscita, porém leve e benéfica mesmo quando sugere o atroz. Sugados e repelidos, a nossa posição, a nossa distância só pode ser justa, mesmo se em risco de nos despenharmos pela escada.
Na voracidade do tempo que passa estes quadros proporciona-nos alguma quietação, alguma estabilidade interior pelo que em nós projectam, pelo fascínio que sobre nós exercem, e a pintura torna-se ecrã em que se projecta um filme. Na quietude suscitada, bruscamente suspensos sobre o vazio, sobre o nada, nele nos revemos e reconhecemos, coloridos ontem, hoje cinzas frias. Cinzas e negros da solidão interior de um passado colorido. Negro em que a luz se resolve. Hopper e Rothko? Com certeza e entre outros, mas sobre eles a inspiração lucilante do pintor, que sobre o seu trabalho paciente, inebriante, a partir do aquém permite vislumbres entrevistos, interditos do além. Um além que é exterior mas também interior.
Um mundo cujos contornos, na superfície liquefeita se tornam indefinidos, indecisos, aproximando-se do esboço do borrão para logo se recomporem em sugestão do que esteve na sua origem, do que está para além deles. O desfazer de contornos recompõe-nos ao repô-los nos seu justos, precisos termos. Sem jogar com o realismo e pressupondo a abstracção que não se limita a acolher em sugestões expressionistas e surrealistas, a ave que pousa na superfície do quadro levanta elegantemente voo como lágrima impertinente que, súbita, contradiz ou, indiscreta corrobora o sorriso e turva a visão de uma bela mulher.
Na emoção da cor em que a forma indefinidamente se define, recorta quadros dentro do quadro, desdobra-os, traça linhas divisórias, e a comoção regeneradora que desperta permite melhor olhar em volta e perceber a indefinição do concreto e definido na sua própria definição concreta, que convoca o passado, a solidão, a memória. O traço generoso, aberto mas contido, dominado na sua expressividade, acolhe a indecisão interior que melhor permite compreender, e somos a emoção que nos suscita, porém leve e benéfica mesmo quando sugere o atroz. Sugados e repelidos, a nossa posição, a nossa distância só pode ser justa, mesmo se em risco de nos despenharmos pela escada.
Na voracidade do tempo que passa estes quadros proporciona-nos alguma quietação, alguma estabilidade interior pelo que em nós projectam, pelo fascínio que sobre nós exercem, e a pintura torna-se ecrã em que se projecta um filme. Na quietude suscitada, bruscamente suspensos sobre o vazio, sobre o nada, nele nos revemos e reconhecemos, coloridos ontem, hoje cinzas frias. Cinzas e negros da solidão interior de um passado colorido. Negro em que a luz se resolve. Hopper e Rothko? Com certeza e entre outros, mas sobre eles a inspiração lucilante do pintor, que sobre o seu trabalho paciente, inebriante, a partir do aquém permite vislumbres entrevistos, interditos do além. Um além que é exterior mas também interior.
Luís Noronha da Costa é o pintor português, também cineasta e arquitecto, que acompanho há mais tempo, desde a minha juventude, e tenho pela sua obra um apreço muito especial. Até ao próximo dia 25 de Fevereiro está na Galeria São Mamede, em Lisboa, uma exposição sua, intitulada "Na imensa solidão do meu passado - Obras de 1970 aos nossos dias". É todo o passado dele, e o meu, na sua imensa solidão em que a minha se revê. Em especial naqueles dois "pores-do-sol americanos", que não conhecia.
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