“Um não sei quê, que nasce não sei onde,/Vem não sei como, e dói não sei porquê.” Luís de Camões

"Na dor lida sentem bem,/Não as duas que êle teve,/Mas só a que êles não têm." Fernando Pessoa

"Lividos astros,/Soidões lacustres.../Lemes e mastros.../E os alabastros/Dos balaustres!" Camilo Pessanha

"E eu estou feliz ainda./Mas faz-se tarde/e sei que é tempo de continuar." Helder Macedo

"Conchas, pedrinhas, pedacinhos de ossos..." Camilo Pessanha

“Vem, vagamente,/Vem, levemente,/Vem sozinha, solene, com as mãos caídas/Ao teu lado, vem” Álvaro de Campos

"Chove nela graça tanta/que dá graça à fermosura;/vai fermosa, e não segura." Luís de Camões

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Uma experiência visual

       Também patente no Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian até 18 de Maio, a exposição "Narrativa Interior", do fotógrafo e artista visual João Tabarra cobre 20 anos de produção artística e permite a quem não o conheça de trabalhos anteriores o contacto com uma obra apreciável que do inusitado dos motivos e do tratamento exuberante da cor tira o maior proveito.
      Num país em que alguns dos melhores fotógrafos, como Jorge Molder e Paulo Nozolino, trabalham com grande pertinência e coerência, rigor e inventiva a preto e branco, João Tabarra recorre à cor de um modo não-naturalista, ou que supera o realismo que possa integrar rumo a uma visão transfigurada que é também e sobretudo uma visão interior. Longe do simples realismo, ele integra nas suas fotografias motivos realistas mas também uma ideia de encenação a que, como fotógrafo, confere um excesso de significação através do uso de processos que sublimam o realismo no confronto de motivos e de sentidos ou no seu aprofundamento. 
                     João Tabarra           
     Saturadas de cor, pormenorizadamente trabalhadas e imbuídas de contradições internas que trata de fazer sobressair, as fotografias de João Tabarra, acompanhadas de filmes e vídeos projectados, dão fielmente conta de um talento visual muito rico e complexo que interessa conhecer e acompanhar no seu ilusionismo ostensivo mas inteiramente dominado, com o qual o artista se pensa a si próprio, pensa o mundo e nele nos pensa. Reunir em imagens fotográficas o exterior e o interior como João Tabarra faz é digno de apreço, tanto mais quanto nas suas fotografias ele exprime e deixa impresso um ponto de vista definido como criador, que esta exposição permite identificar como agudamente crítico.
      A diversidade de propostas presente na actual fotografia portuguesa é uma prova de vitalidade que aqui devo registar e elogiar. Ao lado da reportagem e do documental, a fotografia artística mostra-se com João Tabarra capaz de dar conta de um vasto espectro de motivos, de emoções e de questões visualmente representáveis, que além de serem suas nos dizem também respeito a todos nós. E a transição para a imagem em movimento é, nesta exposição, muito significativa e está muito bem utilizada.
      O fotógrafo mostra claramente em "Narrativa Interior" como uma técnica mecânica, realista de captura da realidade pode ser utilizada de uma forma que transcende o realismo, interpretando e fazendo falar a própria realidade de uma maneira criativa, o que é muito importante por demonstrar que também na fotografia, mesmo na fotografia a cores está implicada a subjectividade e envolvida a criação.

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