Robert Redford é uma personalidade importante do cinema americano por uma longa e relevante carreira como actor, primeiro, como realizador, depois, mas tornou-se especialmente notável desde 1981 devido ao Sundance Institute (www.sundance.org/), que fundou e a que preside, dedicado ao apoio ao cinema e ao teatro, e ao Sundance Film Festival (www.sundance.org/festival/), que anualmente acolhe o melhor da produção ciematográfica independente, que assim decisivamente promove.
Lembro-me dele desde os seus primeiros filmes relevantes, dirigidos por Robert Mulligan, Arthur Penn, depois em "Descalços no Parque"/"Barefoot in the Park", de Gene Sacks (1967) e com Jane Fonda, "Dois Homens e Um Destino"/"Butch Cassidy and the Sundance Kid", o filme que o catapultou para a fama, de George Roy Hill (1969) e com Paul Newman, outro actor carismático, "O Vale do Fugitivo"/"Tell Them Willie Boy Is Here", de Abraham Polonsky (1969), nos anos 70 e 80 sobretudo em filmes de Sidney Pollack - em 1973 George Roy Hill voltou a juntá-lo a Paul Newman em "A Golpada"/"The Sting". Quando se tornou realizador, com "Gente Vulgar"/"Ordinary People" (1980), fê-lo em grande, abrindo uma obra importante que tem continuado - entre os seus mais recentes filmes apreciei sobretudo "A Conspiradora"/"The Conspirator" (2010). Mas partir de 1981, para o bem ou para o mal, sobretudo para o bem, Sundance é ele.
Lembro-me dele desde os seus primeiros filmes relevantes, dirigidos por Robert Mulligan, Arthur Penn, depois em "Descalços no Parque"/"Barefoot in the Park", de Gene Sacks (1967) e com Jane Fonda, "Dois Homens e Um Destino"/"Butch Cassidy and the Sundance Kid", o filme que o catapultou para a fama, de George Roy Hill (1969) e com Paul Newman, outro actor carismático, "O Vale do Fugitivo"/"Tell Them Willie Boy Is Here", de Abraham Polonsky (1969), nos anos 70 e 80 sobretudo em filmes de Sidney Pollack - em 1973 George Roy Hill voltou a juntá-lo a Paul Newman em "A Golpada"/"The Sting". Quando se tornou realizador, com "Gente Vulgar"/"Ordinary People" (1980), fê-lo em grande, abrindo uma obra importante que tem continuado - entre os seus mais recentes filmes apreciei sobretudo "A Conspiradora"/"The Conspirator" (2010). Mas partir de 1981, para o bem ou para o mal, sobretudo para o bem, Sundance é ele.
Pois é este homem poeminente no cinema americano mas que permanece modesto que assume o risco de ser o único intérprete de "Quando Tudo Está Perdido"/"All Is Lost", segunda longa-metragem de J. C. Chandor (2013), em que sozinha, sem encontrar qualquer outro ser humano a sua personagem deriva pelo Oceano Pacífico ao longo de oito anos. Depois do prólogo na actualidade, quando se recua no tempo não lhe ouvimos senão muito escassas palavras, imprecações como "fuck", "God", quando, depois de ter abandonado o seu pequeno barco em favor de um salva-vidas de borracha, navios passam por ele sem o verem.
De resto, o filme são os seus movimentos quotidianos, para se preservar a si próprio e manter a cabeça lúcida, a funcionar, na sua radical solidão e para lhe resistir, por momentos para tentar o contacto com alguém distante que ignora que ele sequer exista. Longe de um autómato, contudo, este homem literalmente à deriva, que tenta orientar-se com um sextante, ao cumprir os seus rituais quotidianos assume a espessura humana que o actor, sem malabarismos de interpretação com a sua simples presença lhe dá. Ele é um homem só, perdido no imenso oceano, que sozinho resiste e subsiste, e como tal o vemos e nele nos reconhecemos.
Claro que este é um filme que tem antecedentes, nomeadamente "O Velho e o Mar"/"The Old Man and the Sea", de John Sturges (1958) e com Spencer Tracy, baseado em novela de Ernest Hemingway, mas aí ainda havia um "inimigo", um peixe gigante que permitia remeter para o mítico "Moby Dick", de Herman Melville, que John Huston levou ao cinema em 1956. Mas mesmo em "A Ilha Nua"/"Hadaka no shima", do japonês Kaneto Shindo (1960), movíamo-nos, sem palavras embora, sobre um terreno sólido, reconhecível. Apesar da luta com o tremendo temporal e de uma breve alusão de pesca, em "Quando Tudo Está Perdido" temos o sentimento cósmico do vazio, que o cineasta transmite muito bem com uma planificação muito segura na proximidade da personagem, na omnipresença do mar, na subtilmente sugerida ausência de um outro, nomeadamente de uma mulher, na distância do horizonte e do céu.
De resto, o filme são os seus movimentos quotidianos, para se preservar a si próprio e manter a cabeça lúcida, a funcionar, na sua radical solidão e para lhe resistir, por momentos para tentar o contacto com alguém distante que ignora que ele sequer exista. Longe de um autómato, contudo, este homem literalmente à deriva, que tenta orientar-se com um sextante, ao cumprir os seus rituais quotidianos assume a espessura humana que o actor, sem malabarismos de interpretação com a sua simples presença lhe dá. Ele é um homem só, perdido no imenso oceano, que sozinho resiste e subsiste, e como tal o vemos e nele nos reconhecemos.
Claro que este é um filme que tem antecedentes, nomeadamente "O Velho e o Mar"/"The Old Man and the Sea", de John Sturges (1958) e com Spencer Tracy, baseado em novela de Ernest Hemingway, mas aí ainda havia um "inimigo", um peixe gigante que permitia remeter para o mítico "Moby Dick", de Herman Melville, que John Huston levou ao cinema em 1956. Mas mesmo em "A Ilha Nua"/"Hadaka no shima", do japonês Kaneto Shindo (1960), movíamo-nos, sem palavras embora, sobre um terreno sólido, reconhecível. Apesar da luta com o tremendo temporal e de uma breve alusão de pesca, em "Quando Tudo Está Perdido" temos o sentimento cósmico do vazio, que o cineasta transmite muito bem com uma planificação muito segura na proximidade da personagem, na omnipresença do mar, na subtilmente sugerida ausência de um outro, nomeadamente de uma mulher, na distância do horizonte e do céu.
Talvez que este filme surja, nos nossos dias, como um objecto insólito, mas nele muito mais e melhor me reconheço do que na esmagadora maioria da produção americana actual. Será talvez uma questão de memória, de passado, em que o filme pela sua parte nunca cai - nunca abandona o presente no mar em favor de um cómodo flash-back para o passado anterior da personagem, o que lhe fica muito bem. Correndo todos os riscos do catálogo e mais alguns, J. C. Chandor, argumentista e realizador, prende-nos com a sua personagem e o seu actor neste filme - cuja personagem, na sua solidão resistente me faz lembrar o Tenente Fontaine/François Leterrier de "Fugiu um Condenado à Morte"/"Un condamné à mort s'est échappé", de Robert Bresson (1956) -, com o qual se reafirma como um novo cineasta muito promissor (sobre ele ver "Glacial", 7 de Fevereiro de 2013).
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