Depois de alguns filmes mal recebidos pela crítica e pelo público ("O Acontecimento"/"The Happening", 2008, sobretudo "O Último Airbender"/"The Last Airbender", 2010, e "Depois da Terra"/"After Earth", 2013), M. Night Shyamalan estreou "A Visita"/"The Visit" (2015), que é um filme mais ao jeito dos seus filmes iniciais, "O Sexto Sentido"/"The Sixth Sense" (1999) nomeadamente, que lhe valeram a boa fama de que ele começou por beneficiar.
Comparo, contudo, o seu caso com o de Atom Egoyan, que como ele caiu em desgraça a partir de certa altura sem ter deixado de ser o grande cineasta que era. De facto, os três filmes anteriores de Shyamalan não eram tão maus como os quiseram pintar, pois todos eles mantinham, apesar de tudo, a sua marca criativa de autor. Na obra de todos os grandes cineastas há filmes maiores e filmes menores, filmes em que mantiveram maior ou menor controlo criativo, de modo que acontecer-lhe também a ele não tem, a meu ver, nada de original nem de especialmente grave.
Este "A Visita" devolve-nos, mesmo assim, a imagem conforme de Shyamalan, com falsas pistas em falsos momentos dramáticos e súbita revelação em grande tensão do que de facto está em jogo numa aparentemente inofensiva visita de dois irmãos a casa dos seus avós. De novo neste filme, declaradamente de terror, apenas o filme que, bem integrado, a irmã mais velha está a fazer, os contactos via skype com a mãe e o casal idoso que está em vez de um outro, o que em todo o caso implica a presença de três gerações diferentes.
Com o cineasta de novo como realizador, argumentista e co-produtor, no que à mise en scène respeita interessam-me sobretudo os planos de interiores tirados em diagonal do espaço - e "A Visita " decorre na sua maior parte no interior de uma casa perdida no meio da floresta -, a montagem e a dinâmica das interpretações, em contrastes etários muito bem defendidos em termos de diálogos. Pelo dispositivo cenográfico e mesmo narrativo, o filme não deixa de trazer à nossa memória "Shining"/"The Shining", de Stanley Kubrick (1980).
Agora de novo bafejado pelos favores de alguma crítica de referência, vamos ver o que M. Night Shyamalan vai fazer a seguir a um filme que, pela pena de Manohla Dargis, foi considerado pelo The New York Times um "Hansel and Gretel" dos novos tempos, sempre com a noção de que ele é um cineasta importante. No cinema, nomeadamente no cinema americano, estes altos e baixos são muito comuns, pelo que não devem ser sobrevalorizados.
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