Rui Simões, o prestigiado documentarista português autor dos seminais "Deus Pátria Autoridade" (1976) e "Bom Povo Português" (1980), resolveu dedicar um documentário longo ao mais conhecido e internacional artista angolano, o que resulta em "Ole António Ole" (2013), que só agora tive oportunidade de ver e aqui refiro por ser um filme notável.
Entramos no filme pela visita do artista ao espaço desactivado e em ruínas de um antigo cinema, para depois continuarmos a acompanhar António Ole entre o seu atelier em Luanda e as suas deambulações pela cidade mas também pela sua memória, o que é especialmente bem feito com recurso a imagens de filmes tanto de Rui Simões como do próprio artista, também cineasta, fotógrafo e criador de instalações.
Ora as memórias de Ole têm o maior interesse por se referirem tanto ao período anterior à independência, incluindo a sua permanência em Portugal, como à própria independência de Angola e à sua vida daí para a frente, tudo ilustrado por excertos de filmes de um e do outro e por imagens de arquivo. Por sua vez, os comentários e esclarecimentos, naturais e descontraídos, do artista sobre o seu trabalho com diversos materiais são muito significativos e sempre pertinentes.
Mas é na última meia-hora que o filme sai do apesar de tudo comum no documentário sobre artistas, ao acompanhar António Ole na sua saída da cidade justamente à procura na praia dos materiais para o seu trabalho e no seu mais recente e mais amplo espaço de trabalho, perspectivando trabalhos futuros. E aí o filme de Rui Simões atinge a sua verdadeira dimensão ao reunir os quatro elementos, Terra, Água, Fogo e Ar, de uma maneira justa e feliz.
Diz António Ole em dado momento que precisa do contacto com a realidade porque a sua arte parte da vivência pessoal, e esclarece mais que as suas obras mantêm um essencial espírito crítico, o que deve ser especialmente notado. Além disso, ele insere-se, como artista angolano, numa estética africana, o que é muito bem visto e esclarecedor (esclarecido por ele), pois todos nós precisamos de conhecer mais a arte africana, incluindo a angolana, e de conhecer melhor a estética africana.
Com um objecto à sua altura, é, pois, muito bom este novo documentário de Rui Simões, que a música angolana anima.
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