“Um não sei quê, que nasce não sei onde,/Vem não sei como, e dói não sei porquê.” Luís de Camões

"Na dor lida sentem bem,/Não as duas que êle teve,/Mas só a que êles não têm." Fernando Pessoa

"Lividos astros,/Soidões lacustres.../Lemes e mastros.../E os alabastros/Dos balaustres!" Camilo Pessanha

"E eu estou feliz ainda./Mas faz-se tarde/e sei que é tempo de continuar." Helder Macedo

"Conchas, pedrinhas, pedacinhos de ossos..." Camilo Pessanha

“Vem, vagamente,/Vem, levemente,/Vem sozinha, solene, com as mãos caídas/Ao teu lado, vem” Álvaro de Campos

"Chove nela graça tanta/que dá graça à fermosura;/vai fermosa, e não segura." Luís de Camões

terça-feira, 29 de setembro de 2015

Sobre a fotografia

   O último filme de Anton Corbijn, "Life" (2015), é decididamente um filme sobre a fotografia e o cinema, o cinema visto por um fotógrafo, que o realizador começou por ser e também é, o que faz dele um objecto visual insólito e muito interessante.
   Corre o ano de 1955 na América e um fotógrafo em busca de trabalho e visibilidade, Dennis Stock/Robert Pattinson, persegue literalmente uma jovem revelação do cinema, James Dean/Dane DeHaan, apanhado entre dois filmes, "A Leste do Paraíso"/"East of Eden", de Elia Kazan, e "Fúria de Viver"/"Rebel Without a Cause", de Nicholas Ray, o que nos coloca no coração da última década prodigiosa da idade de ouro da Hollywood clássica.
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    O problema, que é também a vantagem deste filme, é o seu realizador se comprazer na relação estabelecida então entre o fotógrafo, um desconhecido com problemas familiares, e o objecto das suas fotografias, que constantemente se escapa aos seus propósitos, propostas e desejos artísticos. Contudo, quem procura drama ou melodrama num filme que se desengane pois não o encontrará aqui.
   Sobre argumento de Luke Davies, "Life" de Anton Corbijn resolve-se, de facto, entre as artes visuais que a fotografia e o cinema são, na tentativa bem sucedida de paralisar os bastidores da imagem em movimento para uma arte mais séria, com uma relação directa mais imediata, se bem que instantânea, com a realidade. E escolher um mito que morreu jovem prossegue  muito bem um programa fílmico que, na obra do cineasta, vem de "Control" (2007).
   Com uma imagem cinematográfica limpa, sem efeitos mas mesmo assim uma imagem de fotografia, o cineasta consegue seguir James Dean nas suas deambulações pelo meio do cinema, entre festas (de Nicholas Ray/Peter Lucas), a namorada (Pier Angeli/Alessandra Mastronardi), agentes e produtores (Jack  Warner/Ben Kingsley) e o Actors Studio, até à festa de finalistas em que participa no seu Indiana natal, durante a visita que faz à sua família, na qual, dirigindo-se aos mais novos mas falando de si, ele fala da juventude como idade de amor e perda.
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    Contando com um grande encantamento fotográfico (direcção de fotografia de Charlotte Bruus Christensen), em que insisto, este um filme de época muito bem construído para aqueles que amam a fotografia e o cinema e prezam as histórias respectivas, muito bem simbolizadas no título, o de uma revista que foi célebre pela qualidade e oprtunidade dos trabalhos fotográficos que publicava, com os quais marcou uma época muito importante. As fotografias originais sobre o genérico de fim estão bem vistas e justificam-se plenamente
     Sem ser ainda um grande cineasta, Anton Corbijn está a construir-se no cinema de uma forma pessoal nestes já avançados anos 10 do Século XXI, pelo que se deve continuar a contar com o seu genuíno talento original (sobre ele ver "Homens de confiança", de 17 de Agosto de 2014).

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